sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O punho & a palavra (um texto de reação)

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Escrever nunca é o suficiente. É preciso mover-se. Além do pensamento, dos braços e mãos, mover-se de corpo inteiro. Projetar-se no espaço e no tempo. Para que aja vida, é preciso estar em movimento. Nisso, os membros do corpo funcionam como instrumentos. O punho é um dos que mais utilizo. Não, não falo em masturbação. Nem, nesse momento, do ‘punho do sol’ do kung-fu. Mas do punho que sustenta uma caneta ou que se move acima de algum teclado. Escrevo como quem toca piano, compondo sempre uma nova música ou arriscando-me em melodias improváveis - mas não impossíveis. Letras, palavras, frases, parágrafos: o texto! Um texto que sai como um golpe da arte marcial milenar que pratico. Às vezes certeiro, às vezes sem alvo ou foco algum. Mas sempre um golpe. A palavra é navalha que corta e fere. Mas, às vezes também acaricia, como a mão de uma mãe no afago do filho que chora. A linguagem pede violência. A linguagem pede afago. A linguagem acontece por que a comunicação acontece, de uma forma ou de outra. Ao mesmo tempo em que ela aprisiona, também liberta. Falo da linguagem além da escrita. O corpo também se comunica. Também é instrumento de tal e qual linguagem. A linguagem tem voz própria naquilo que é. Ou seja, fala conforme o abrigo da sua voz no querer ser: oralmente, esteticamente, fisicamente, mentalmente, silenciosamente, gritantemente... Escrever nunca é o suficiente. É preciso mover-se. Mover-se para além da linguagem escrita. Assim como toda teoria pede uma prática, toda prática busca a sua teoria, ou pelo menos alguma que a fundamente. Discursos em forma de pretextos que justificam ignorâncias e uma linguagem que agoniza por estar presa dentro de um raso frasco de conhecimento. É esse senhores, o mundo das palavras sem trato. O mundo das linguagens que aprisionam e são aprisionadas. O mundo sem punho, sem golpe, sem afago - sem pulso, sem vida. A mera existência do frasco raso e vazio. E a mente é um frasco. Cheio ou vazio, um frasco. É preciso ler. Ler para além das linhas de qualquer texto. Ler o mundo. Ler a partir de certas referências, certos conhecimentos, certas linguagens. Ler com pulso e golpe. Ler com violência e calmaria. Ler com olhos, bocas e dentes. Ler com o corpo inteiro. Pois a palavra é navalha que corta e fere. Mas, às vezes também acaricia, como a mão do amante que suavemente toca o rosto do seu amor proibido. É preciso ir além do permitido com as palavras, para que essas, além do punho do lutador, tenham o pulso cardíaco de um corpo vivo que reage em meio a tanta prisão...

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