sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A disputa


















Violência, espetáculo, arte e superação nos esportes, jogos e afins...

As Olimpíadas foram criadas na Grécia antiga, assim como o conceito de filosofia, e ambas as criações perduram até os dias de hoje. Muitas vezes eu problematizo a disputa ou a competição em alguns de meus textos, o que muitas vezes não é compreendido por alguns leitores. A questão das minhas análises no caso da disputa, não é a disputa em si, a prática, o esporte, o jogo em si, mas sim, o que há em torno disso, no caso, a forma com que isso é tratado e concebido pela ideologia que atua através dos aparelhos midiáticos, ou seja, o ‘espetáculo’ (também não como entretenimento, mas como formador de opinião e reprodutor de concepções e ‘verdades’). Há sim interesses de grupos de poder nessa massificação e reprodução de valores e ‘verdades’. As Olimpíadas estão aí, ocupando certos espaços na grande mídia, dissimulando valores, como os conceitos de ‘belo’, de superioridade e inferioridade. Não raras vezes, a disputa é alimentada por certa xenofobia e ufanismo pelos meios de comunicação de massa, engordando pré-conceitos e criando ícones que irão servir de referência para a legitimação de supostas ‘verdades’. Isso atua como determinismo e reducionismo das práticas e valores humanos. Eis o grande ‘X’ da questão. Diferente, por exemplo, como é feito o ‘esporte’ em algumas culturas indígenas, onde o espírito competitivo, de combate, tem fundamento na alegria, diversão e busca de superação de certos limites. Assim também pode ser, e é, em alguns aspectos dos esportes ‘oficializados’ em jogos, como os olímpicos, neste caso: “O prazer de disputar como potencial humano de superação de si mesmo e interação com o meio”. É costume separar o homem da natureza, mas para o filósofo alemão F. W. Nietzsche, essa separação não existe. A natureza também é violenta, e no homem, essa ‘violência’ então, também se manifesta. Aí vem a disputa enquanto equilíbrio do excesso dessa ‘violência’, dada pelos gregos antigos através de jogos. A manifestação da violência em forma de disputa, nos jogos, lutas, esportes, debates de idéias e na arte, como um tipo de ‘representação’, tornando o conflito e a discórdia ‘belos’, um potencial de superação humanas possível de ser vivido - uma espécie de ‘regulagem’ da natureza violenta do homem, e não só dele, mas sim, da própria natureza que se manifesta. O mundo, assim, vive em guerra, mas uma guerra pela superação, pela continuidade e melhoria de certa realidade. A própria filosofia, segundo Nietzsche, nasceu como uma espécie de combate, onde as idéias se confrontavam entre si e com o meio. Um bom exemplo dessa ‘guerra’, desse confronto ou combate, é a disputa de palavras entre os repentistas, onde quem ganha é a criatividade e a arte. Mas quando a disputa não é sincera e não carrega em si certa ‘ética’, aí deixa de ser uma disputa enquanto potencial humano, passando a reduzir-se a mera discórdia (ponto para a mediocridade). Competir com os próprios limites é uma forma de experiência humana. Segundo a filósofa brasileira Viviane Mosé, a boa luta é aquela que aumenta a nossa potência e nos faz adquirir outras capacidades. Nas palavras de Mosé: “Se a face violenta de nossa humanidade não pode ser negada, então porque o homem não limita e ordena essa violência por meio de uma disputa bela, ética e artística?”. Eis a diferença entre uma coisa e outra.

Herman G. Silvani



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