Pátria
amada. Pátria armada. Pátria amarga. Pátria que hoje está em 6º ou 7º lugar no ranking das maiores economias mundiais,
na frente até da Inglaterra - e 88º em educação – detalhe! Pátria-Brasil, terra
fértil e propícia à corrupção e ao desleixo do Estado e do setor privado.
Herança portuguesa ou isso é só pretexto para justificar ou amenizar tamanha
vergonha? Vergonha para alguns, para outros, orgulho (me parece). Acordar cedo neste
dia de feriado nacional-patriótico e ir para o centro da cidade em marcha como
nos ‘bons tempos’ da ditadura – e quanta gente gosta da dita-dura?! – catar o
hino e se sentir um pouco patriota, mesmo não sendo ou nem acreditando nisso. Saudosismo
dos que não compreendem ou não compreenderam aquele período histórico? Ou
tentativa de fuga da realidade atual numa idealização de um passado grotesco
que arde como ferida não cicatrizada? Brasil das inúmeras cicatrizes e poucas
justiças, que não teve a reforma do judiciário e muito menos a Reforma Agrária
- por quê? Já se perguntou isso hoje? Ontem? O fará amanhã? Amanhã, talvez seja
tarde! O futuro a nós pertence! – bela idealização do amanhã que nunca chega -
e quando chegar, já não será mais o amanhã, e sim, o presente outra vez. E tudo
vira passado, história e pó (tudo o que é sólido, no caso), assim como disse um
dia um velho filósofo: “Tudo que é sólido se desmancha no ar!” – é pena que
certos costumes, crenças e pensamentos não são sólidos. Pátria armada em
desfile-marcha militar, num mundo que gasta mais em armamentos do que em saúde,
alimentação e educação. Pátria amada em suas diversidades, cores, cheiros,
sabores... Pátria amarga em alguns sabores e fatos que nos ampliam as
cicatrizes. Mas não há problema. Temos o futebol, o horário eleitoral, a rede
globo, a novela das oito, os heróis nacionais. E são muitos! Eles substituem
nossas ações pelas suas (será?). Suas imagens, seus sorrisos forjados nos
desfiles das suas riquezas justificadas. São semideuses dessa pátria. Mas nós
cantamos o hino, com toda a convicção, pelas ruas neste dia, no pátio das
escolas, pelos largos corredores do manicômio de cada um de nós ou acompanhando
exemplos da televisão. Somos todos um pouco mais brasileiros neste dia,
estrangeiros no próprio corpo e espaço que ocupamos, pois nada é nosso nem de
ninguém, tudo é passagem e impressão. Tudo é devaneio em meio a tanto comodismo
e infecção. Nossas feridas estão abertas, pulsantes, vivas, doloridas. Mas
dizemos que não, pelo menos hoje, enquanto a bandeira é hasteada e tremula sob
nossos olhares (ou na falta deles) e sobre nossas convicções. Somos
brasileiros, não desistimos nunca, nem de nossos equívocos ou falta de bom
senso. Mas vamos em frente, pelo menos, tentando perceber o passado e com os
olhos ativos no presente. Assim, quem sabe um dia, nosso hino passe a fazer
sentido para além dessa tradição...
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