sexta-feira, 9 de novembro de 2012

De escolas e prisões

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(obra de Banksy)
 
 
Vivemos entre escolas e prisões. Alguns não concordam com esse meu apontamento. Acham ele um pouco pontiagudo, cortante. Mas é pra ser mesmo. Ultimamente estou sendo bastante requisitado por estudantes universitários das áreas de humanas e sociais para opinar e responder entrevistas sobre educação, sala de aula, o ‘ser professor’, realidade escolar, etc. Também fui procurado para dar oficina de poesia numa grande escola particular aqui da cidade, dado a necessidade dessa linguagem sensível e criativa, quase morta no contexto atual. E lá vou eu. Aceito quase tudo. Sou um homem multiuso. Sirvo pra muita coisa ou pra nada, isso tudo vai depender de algumas variantes. Num sistema contraditório em sua origem, ou numa sociedade mecanizada como a nossa, é necessário ter certas habilidades, como caminhar por espaços diversificados. Não que eu quisesse, mas me constituí assim (e não estou acabado, continuo). Anda em voga uma discussão sobre a obrigação ou não de câmeras de monitoramento dentro das escolas e nas salas de aula. Minha opinião? Acho ridículo! Motivos? Vários, mas um em especial: ‘Escolas não podem estar a nível das prisões’, assim como o professor e os alunos, ‘vítimas’ desse ‘sistema’, não podem se renderem a essa condição. Vi pela televisão a mais nova: uma escola no Brasil que implantou um chip no uniforme dos alunos. E alguns professores aplaudem. E alguns pais aplaudem. E a escola vira um circo – de horrores. Um picadeiro onde os palhaços riem da própria desgraça. Sim, desgraça! É onde estamos chegando com isso. Com o pretexto da ‘violência’, se implantam esses ‘melhoramentos’ (ou escapismos?). O outdoor que desenho na minha cabeça: ‘Escolas ou penitenciárias?’. Um tal ‘especialista em educação’ defendeu que o chip evita a fuga e desistência de alunos da escola e da sala de aula. A pergunta que quer gritar: ‘mas quais os motivos dessas fugas?’. Os discursistas em pró desse ‘sistema escolar’ vão dizer que a culpa é do professor, que não consegue dar uma aula atrativa – mas professor não é palhaço e escola não é circo (ou é? já não sei!). Se existe uma ‘fuga’ do aluno, não seria pelo fato de que o ‘sistema escolar’ já não tem sentido - pelo menos do modo que ainda insiste em ser? Mas fica mais fácil apontar o dedo para o professor. Ele e o aluno são ‘o problema’. Mas e a família? E a escola? Os dois juntos formam esse ‘sistema’, onde professor e aluno, são os ‘submetidos’, os meios e/ou ‘objetos’ que sustentam esse ‘sistema’. A escola é um espaço isolado, segmentado, dentro de uma sociedade que já não suporta suas próprias falhas ou faltas. E a culpa, é claro, é do ‘trabalhador’ (professor) e do aluno (pobre errante!). E a violência, se combate com monitoramento? Com isolamento, afastamento ou segmentação? Não, isso não é combate, antes, maquiagem. É preciso que se derrubem os muros, as grades e cadeados da escola. ‘Mas como Herman, numa sociedade assim?’. Como, eu não sei, mas é preciso. Se a sociedade é assim, talvez seja porque a gente, o ‘mundo adulto’, a conceba assim, reproduzindo-a. E essa reprodução chega até a criança ou o aluno, pela família, escola e professor. Portanto é preciso resistir. ‘Como?’. Arriscando-se. Fazendo o diferente, com aulas ‘alternativas’, diversificadas, para além dos muros da escola e dos conceitos engessados que os ‘aparelhos reprodutores’ mantém legitimados. É preciso ir além e desconstruir, o mais é aprisionamento.
 
 
* publicado também no jornal Folha do Bairro, do grande bairro Efapi, em 09/11/12
 
 
 

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