quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A vida é agora! (o valor da vida a partir da noção da morte)


* entre o dia dos mortos ou finados, zumbis, bruxas, hallowen e o escambau, existe algo a mais para pensar... mas, o que realmente te atormenta?
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
Tudo o que é sólido se desmancha no ar (Karl Marx)

 Na belíssima obra “O homem que sabe” da filósofa, poeta, psicóloga e professora brasileira Viviane Mosé, tendo por base os pensamentos do filólogo e filósofo alemão F. W. Nietzsche, na ‘Parte I’, que leva o título de ‘O Homo sapiens e a consciência da vida’: ‘1. A consciência da morte e o princípio do pensamento organizado’, Mosé nos diz: “Tudo indica que a consciência da morte foi a primeira manifestação da consciência humana”. Ou seja, adquirimos consciência a partir da noção da morte, ou, de que vamos morrer um dia. Sendo o homem, o único animal que pensa a morte, que tem ela ao seu lado enquanto consciência a vida toda. Somos a única espécie viva que produz cultura, além do fator instintivo, como uma forma de mais ou menos organizar a vida, o cotidiano, o pensamento, reproduzindo valores, como tradições, crenças, hábitos e costumes. Sendo assim, o homem é o único ser vivo a ter um ritual funerário e preparar sua vida, tendo sempre em vista o prazer. Nisso, preparar um alimento deixou de ser apenas uma necessidade de sobrevivência, passando a ser uma cultura, uma arte, ou seja, uma ação, como um ritual que nos proporcione um sentimento de prazer. Então, além de uma necessidade básica, comer, também se tornou parte importante e prazerosa da cultura humana, e isso vem do valor dado a vida por nós, seres culturais. Referente a isso, Mosé também nos diz que “A consciência da morte nos impulsiona em direção à vida; a morte nos impõe a vida como um valor”. E valorizar a vida, em algum sentido, é construí-la em torno do prazer – ou da busca por ele. Assistir um filme, assim como dançar, praticar sexo para além da reprodução, entre outros, são exemplos dessa ‘cultura do prazer’, e porque não, cultura da vida. Mas o que é a vida então? Não há um conceito que a defina em toda sua amplitude, mas, concordando com Mosé podemos dizer que “(...) o que nos constitui como espécie é, antes de tudo, a constatação da morte como o eterno limite. Se tudo nasce e morre, a vida é um intervalo entre uma coisa e outra”. O homem, além de viver, sabe que vive, por isso interfere de forma mais ou menos consciente na vida, e a organiza (ou pelo menos tenta), ao seu modo. Vivemos, portanto, pensamos a partir do meio que nos cerca, de certo contexto, sempre impulsionados em direção à cultura. Se a morte é um problema pra ‘nós’ ocidentais de moral judaico-cristã, a mesma moral que prega uma vida após a morte, mas a todo tempo, tenta afastar a morte dessa vida, é devido a certo receio e/ou medo do desconhecido, pois, o que é a morte senão o desconhecido? Às vezes, o que não sabemos, transformamos em distância ou esquecimento. Mas ela, a morte, sempre vem nos sacudir: “estou aqui!”. Admitir a morte como algo natural e que nos vem de encontro uma hora ou outra, nos faz valorizar a vida. Então, tratemos de vivê-la de forma intensa, sendo que a vida só existe na relação com o outro e com o meio. Nisso, olhemos sempre para ‘o outro’ tendo em vista também a realidade que nos cerca, e façamos da vida algo ‘real’ e não um ‘ideal de vida’, pois ela acontece agora e não num amanhã que se idealiza – pois a vida se move e se transforma a todo o momento - assim como canta a banda de rock xapecoense Epopeia: “Viva sem demora/ a vida é agora/ para quem quer se mover!”.

 Herman G. Silvani

 
02/11/2012 – dia de finados para os cristãos

* também publicado no jornal Folha do Bairro



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