Passados alguns anos resolvi retornar.
Minha ausência foi sentida por aqueles que me amavam. Eram poucos, mas
existiam. Antes da fuga, estive ao lado dos que portavam a esperança. Eram
muitos. Visivelmente, lutavam para ter seu espaço, sua vida. Os demais tentavam
de todo modo obstruir a luta. Tornar tudo inviável. Um projeto de anos. Não
estávamos pra brincadeira. Fazíamos barricadas no deserto, manifestos no
chuveiro, projetos para desviar o curso dos rios e tudo mais. Criamos empresas
para juntar grana e dar vida prática aos nossos projetos. Foram tantas! Lembro
que no meu apartamento, apertado, de pouca luz e sem nenhum móvel, montei uma
transportadora, a ‘Transpirâmide’. Adquiri dois caminhões e um telefone fixo.
Fiz sociedade com a dona Jacira do apê ao lado. Ela não andava nem ouvia
direito e mal sabia escrever seu nome. Por isso deixei-la na incumbência de
atender os telefonemas e anotar os recados. Criamos o lema: “TRANSPIRÂMIDE:
transportamos sua pirâmide com segurança e rapidez por um preço bem menor do
que o tamanho dela!” Nada novo, um clichê até, mas objetivo. Criamos uma editora para publicar nossos
manifestos e livros teóricos, a ‘EDIONDA’, fazendo jus a nossa causa - que era
realmente uma onda! Tínhamos até uma sede própria que resolvemos riscar do mapa
para que ninguém a encontrasse, nem nós mesmos. Nossas reuniões eram
telepáticas, estratégia para que ninguém viesse nos capturar. Tudo ia muito bem
até que eles chegaram. Armados de ódio e sedentos por poder. Descobrir nossos
planos era a meta do imperador. Acabamos por desaparecer através de nosso tele
transporte baixado pela internet. Por ser pirata, às vezes não funcionava e por
isso alguns camaradas ficaram presos no caminho sem chegar ao destino. Agora
para encontrá-los só on line. Estão viajando na rede como vírus. Uma outra arma
muito eficiente descoberta por nós. Tínhamos um pacto que dizia que ‘onde estivéssemos,
até a morte, tramaríamos contra o sistema’. Assim, a missão dos ‘piratas da
rede’ tornou-se a que nos dá os maiores resultados.
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