quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Efeito Zumbi




 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Século XXI. Semi-humanos rastejam-se pelas ruas, assustadores, com seus olhos sem vida e seus cadáveres tortos. São seres ocos que divagam por aí. Quando criança eu acreditava em zumbis. Via aqueles filmes com aquelas criaturas medonhas e me encantava, num encanto terrível e sedutor. Um desses filmes se chama “Extermínio” (do inglês Danny Boyle, o mesmo diretor de outros grandes filmes como “Trainspotting”, “Cova Rasa” e do ‘oscarizado’ sucesso: “Quem quer ser um milionário”). “Extermínio” fala de um mundo povoado em por zumbis, aqueles mortos-vivos eternizados pelos filmes “B”.

Hoje a ficção torna-se realidade e o mundo passa a conviver com um fenômeno urbano, que se alastra como um vírus. Ainda não passa de pessoa para pessoa, mas passa de mão em mão. Zumbis existem! Perambulam pela cidade fissurados e paranóicos, numa alienação que acompanha a loucura dos dias contemporâneos. As autoridades que antes caçavam maconheiros sonolentos pelas esquinas, agora realmente têm com o que se preocupar. Perceberam que a erva não era nada e continua não sendo, comparada ao crack. E me parece que este veio para ficar.
 
O crack prolifera como uma praga criando uma nova categoria de seres (quase) humanos, os zumbis. O crack deixa o mundo impotente frente ao seu poder consumível: almas vazias em cadáveres que se movem. Questão de saúde pública e muito mais que isso. Mobilizam-se ONGS, empresas, igrejas, imprensa em  torno de uma bandeira que diz: ‘Crack nem pensar!’. Eu diria: ‘Crack, pensar sim!’, pois há de se refletir, há de se pensar sobre os motivos do ‘efeito zumbi’. Para os marginalizados, uma fuga para o outro mundo (o mundo dos zumbis). Semi-humanos mortos-vivos que trocam a dor de uma existência mínima, diminuta, sofrida, miserável, por uma meia existência, uma meia dor. Talvez assim, os zumbis, abandonando o sonho de ‘ser’ nesta realidade de ‘ter’, estejam mais coerentes com suas reais condições existenciais. Quem já assistiu “Trainspotting” (já que o citei aqui), talvez compreenda os motivos dos zumbis.


* re-publicado no jornal Folha do Bairro, Nov. 2012.


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