sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Religião, mídia e poder...




Caso e briga de cachorro grande, diocramento!

“O Ministério das Relações Exteriores concedeu passaporte diplomático para dois líderes da Igreja Mundial do Poder de Deus. Segundo o Itamaraty, Valdemiro Santiago de Oliveira e Franciléia de Castro Gomes de Oliveira receberam o passaporte diplomático em ‘caráter de excepcionalidade’, mas não foram fornecidos detalhes”. (...) “Leia mais: Bispa da 'Renascer em Cristo' lança perfume com cheiro de Jesus”.

Abro a internet e em uma página inicial me deparo com essas preciosidades de um Brasil de privilegiados – amém! Adentro no assunto em busca de uma pauta para minha possível crônica (esta que agora estou parindo), e outras informações desse naipe caem frente aos meus olhos de predador. A briga de cachorro grande (não tem nada haver com aquela banda de rock gaúcha que volta e meia dá o ar da sua graça aqui na região), entre Record (a emissora do bispo) e a Globo, continua. Agora o alvo da Record foi a minissérie ‘O canto da sereia’ e a novela ‘Salve Jorge’. Os motivos ‘religiosos’ (e/ou ideológicos?) da Record são de tons conservadores. Vestida com a carapuça do moralismo ‘politicamente correto’, a emissora do bispo diz que a minissérie (que já terminou) da Globo faz (fez) apologia à bissexualidade, já que mostrava um romance entre duas mulheres. Mas isso não é novidade, aliás, está na moda (não estou dizendo aqui que vejo problema nisso, de forma alguma, ok?). Além disso, segundo um pastor ligado à emissora, a minissérie promoveria também a religião de origem africana, o candomblé. ‘Que blasfêmia! Só o cristianismo (e de cunho político e ideológico, diga-se de passagem) pode ser difundido meus puros’! E a bancada ‘cristã’ do congresso junta-se aos ruralistas (latifundiários) na defesa dos interesses da nação – das ‘sua’ nações’, a bancada escolhida por um deus que não gosta de índios, sem terras e outros segmentos ‘pagãos’. Com isso, não estou aqui defendendo a obesa programação da ‘rainha’ rede Globo, mas, esses ‘motivos’ ou objetos de ‘crítica’ da Record, cá entre nós, são descarados, e no mínimo, recheados de interesses. Essa ‘briga’ de doutrinas, crenças (ou discursos em torno delas?), tem um fundo político e ideológico, além da disputa pelos pontos de audiência. E muitos de nós, tolos sentados no trono alimentando esse ‘espetáculo’ midiático, essa turma que se farta na grana e discursa pureza, sinceridade, moral, etecétera. A disputa é pelo e em torno do poder, o que no discurso midiático se faz parecer outra coisa. Por isso, abrir um bom livro, locar e assistir um bom filme, ouvir uma boa música, ou mesmo jogar papo pro ar, pode ser um programa bem mais rico do que sentar na frente de uma TV, e como diria Raul Seixas: “com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar”... 


* também publicado no jornal Folha do Bairro em 18/01

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