Caso e briga de
cachorro grande, diocramento!
“O Ministério
das Relações Exteriores concedeu passaporte diplomático para dois líderes da
Igreja Mundial do Poder de Deus. Segundo o Itamaraty, Valdemiro Santiago de
Oliveira e Franciléia de Castro Gomes de Oliveira receberam o passaporte
diplomático em ‘caráter de excepcionalidade’, mas não foram fornecidos
detalhes”. (...) “Leia mais: Bispa da 'Renascer em Cristo'
lança perfume com cheiro de Jesus”.
Abro a internet e em uma página inicial me deparo com essas preciosidades
de um Brasil de privilegiados – amém! Adentro no assunto em busca de uma pauta
para minha possível crônica (esta que agora estou parindo), e outras
informações desse naipe caem frente aos meus olhos de predador. A briga de
cachorro grande (não tem nada haver com aquela banda de rock gaúcha que volta e
meia dá o ar da sua graça aqui na região), entre Record (a emissora do bispo) e
a Globo, continua. Agora o alvo da Record foi a minissérie ‘O canto da sereia’
e a novela ‘Salve Jorge’. Os motivos ‘religiosos’ (e/ou ideológicos?) da Record
são de tons conservadores. Vestida com a carapuça do moralismo ‘politicamente
correto’, a emissora do bispo diz que a minissérie (que já terminou) da Globo
faz (fez) apologia à bissexualidade, já que mostrava um romance entre duas
mulheres. Mas isso não é novidade, aliás, está na moda (não estou dizendo aqui
que vejo problema nisso, de forma alguma, ok?). Além disso, segundo um pastor
ligado à emissora, a
minissérie promoveria também a religião de origem africana, o candomblé. ‘Que
blasfêmia! Só o cristianismo (e de cunho político e ideológico, diga-se de
passagem) pode ser difundido meus puros’! E a bancada ‘cristã’ do congresso
junta-se aos ruralistas (latifundiários) na defesa dos interesses da nação – das
‘sua’ nações’, a bancada escolhida por um deus que não gosta de índios, sem
terras e outros segmentos ‘pagãos’. Com isso, não estou aqui defendendo a obesa
programação da ‘rainha’ rede Globo, mas, esses ‘motivos’ ou objetos de
‘crítica’ da Record, cá entre nós, são descarados, e no mínimo, recheados de
interesses. Essa ‘briga’ de doutrinas, crenças (ou discursos em torno delas?),
tem um fundo político e ideológico, além da disputa pelos pontos de audiência.
E muitos de nós, tolos sentados no trono alimentando esse ‘espetáculo’
midiático, essa turma que se farta na grana e discursa pureza, sinceridade,
moral, etecétera. A disputa é pelo e em torno do poder, o que no discurso
midiático se faz parecer outra coisa. Por isso, abrir um bom livro, locar e
assistir um bom filme, ouvir uma boa música, ou mesmo jogar papo pro ar, pode
ser um programa bem mais rico do que sentar na frente de uma TV, e como diria
Raul Seixas: “com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar”...
* também publicado no jornal Folha do Bairro em 18/01
Nenhum comentário:
Postar um comentário