sábado, 5 de janeiro de 2013

Cultura armada

Vivemos um tempo de angústias. Um tempo de depressões, estresses e outras ditas ‘doenças’ modernas, subjetivas, psicológicas. Os religiosos preferem chamar de ‘doenças da alma’. Os românticos idealistas, de ‘doenças do coração’. Eu, de ‘doenças da cabeça’. Mas isso não é tão importante. A pergunta que perturba grande parte da população norte americana e mundial no momento: ‘Porque ele matou aquelas crianças?’ – trata-se da mais recente ‘chacina’ numa escola norte americana. O jovem, classe média (no Brasil seria média/alta), pacato, ‘semblante CDF’, inteligente (segundo amigos e família), etc. e tal, abriu fogo e matou 27. Alguns professores, mas a maioria, crianças. Autoridades e sociedade civil, novamente (como sempre acontece), ‘buscam respostas’.Respostas, que, da forma que se pretende, não existem. Já iniciamos o novo ano, e segundo alguns interpretes do calendário Maia, um novo ciclo, um novo momento– e eu espero que assim seja! O desespero bate a porta e as ‘pessoas comuns’ procuram uma justificativa, uma explicação que as conforme e/ou conforte. Em todo caso, se mira o indivíduo, e neste caso, o atirador. Este, para a maioria, é o culpado, único e exclusivo. São várias as justificativas (ou pretextos): ‘Tinha problemas de relacionamento’, ‘era depressivo’, ‘viciado em drogas ou jogos de violência’, etc, etc, etc. A ‘lógica’ (ou a falta dela) desse pensamento vai de encontro as crenças e convicções passadas, engessadas dessa cultura vitimizadora e que reproduz a ideia de ‘livre arbítrio’, como se fosse uma verdade dada, única e absoluta. Mas não. Sinto em soprar ardentemente o sonho alheio, mas isso não passa de crença e reprodução de certa convicção mórbida. De certo modo, o ‘assassino’ também foi vítima (tanto é que acabou morrendo também). E não, não estou defendendo sua ação, apenas dizendo que o ‘indivíduo’não é o causador de uma situação terrível como esta. Visualizo ‘um todo’ social como agente, ou seja, a cultura e certos valores humanos. Valores de competição, disputa e imposição de poder. Valores armados. O jovem atirador foi instrumento desses valores, dessa cultura. Fez vítimas, a maioria, inocentes, crianças. Os adultos... bem, adultos são outro papo. Vítimas também, mas não tão inocentes assim. Mas esse é um outro papo para um outro momento. Se prosseguirem as mesmas análises, avaliações, crenças, ideias, pensamentos sobre fatos como estes, como se fossem fatalidades, virão outros. Despejar toda a culpa num único indivíduo é uma forma de livrar a cara da sociedade constituída, seus valores, crenças e práticas. Nisso, desconstruir esse discurso do ‘certo e errado’, ‘bem e mal’, pode ser um começo – para, talvez, uma real mudança...

Herman G. Silvani
 
 
 
 

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