50
anos da
‘dita-dura’: um golpe na cultura e educação do país...
1 . Há quem goste da ‘dita-dura’. Para esses, só
tenho a lamentar. Mas também, vai querer o quê, né?! ‘Mundo pra ser mundo tem
que ter de tudo um pouco’, já dizia meu velho avô. A dita, quando fica dura,
pode causar algum dano. Decerto eles sabem, pois advertir não basta. Talvez,
queiram sentir a ‘dita-dura’ agindo em seus corpos e suas mentes. Não teria
nada contra, desde que não fosse com o outro. Se fosse particular, aí sim, tudo
bem. Mas acontece que não é. A ‘dita-dura’ come parelho. Quer dizer, geralmente,
come quem não a quer, e nesse caso, é estupro. Muitos dos que a querem
novamente, é porque foram privilegiados naquele tempo em que ela arrombou a
pátria – por trás. Dizem-se ‘patriotas’, orgulhosos da bandeira, mas não sentem
remorso em verem seus irmãos de chão ser censurados, perseguidos, torturados,
violentados, mortos. ‘São tão justos!’ Chega dá dó. Você que gosta ou quer a
‘dita-dura’ em ação, procure uma que seja só sua, particular, e pare de ‘impor’
aos outros aquilo que nem todos (ou poucos) desejam.
2 . Somos herdeiros de um tempo duro, onde a
‘dita-dura’ comia solta. Nossas maiores heranças foram obras faraônicas
superfaturadas, além dos arranjos entre o comando militar, grandes empresários,
meios de comunicação de massa e a elite nacional e internacional que bem se
serviram dos privilégios desse regime. Ou seja, somos herdeiros dessa ‘cultura
de corrupção’ que muito se fala hoje, que não nasceu ontem, de fato, mas que, com
a ‘dita-dura’, tomou mais força e se impregnou de vez nas nossas instituições
públicas e privadas, e em muitas das práticas cotidianas. Outra grande herança
deixada pelo regime, foi a educação. Não uma educação voltada para as relações
humanas, mas para a burocracia e formalidade dessa estrutura e cultura
mecanicista, onde o saber se fez fragmentado. Uma educação privativa, limitada,
autoritária, militarizada, para todos e para ninguém. Assim também se
fortaleceu a cultura da obediência, do medo, submetendo a cultura da
diversidade e a educação reflexiva. Hoje, alguns professores, os mais ousados,
se esforçam e sofrem para mudar essa realidade. As heranças da ‘dita-dura’, de
tão dura que a dita foi, deixaram sequelas. Será que um dia elas terão cura?
“A fragmentação
do pensamento e do saber é o modo mais eficiente de controle social" (Viviane Mosé)
3 . Uma frase de uma ‘amizade
facebookniana’ dizia assim: "A
ditadura nunca acabou para os índios e pobres do Brasil". E o que se
pode ver pela TV é isso. Ou seja, a ‘paz’ armada ocupando as favelas do Brasil,
onde as crianças são as maiores vítimas, entre a violência do Estado e do
tráfico organizado. No pretexto de 'ordem' e 'combate às drogas', a estupidez
de um Estado arcaico, violento e covarde, e o prevalecimento e também covardia do tráfico,
faz as maiores vítimas desse sistema herdeiro: as crianças, velhos, doentes,
pessoas comuns, moradores (na maioria afrodescendentes) da favela, onde ambos
(Estado e tráfico) se encontram como violentadores da vida dos que só fazem
lutar para viver.
Enquanto isso, a esperança respira: "UFRGS inclui disco ‘Tropicália’ na lista de leituras obrigatórias
para o vestibular 2015".* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó...
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