sexta-feira, 4 de abril de 2014

Leituras do Cotidiano, 04/04


   50 anos da ‘dita-dura’: um golpe na cultura e educação do país...

1 . Há quem goste da ‘dita-dura’. Para esses, só tenho a lamentar. Mas também, vai querer o quê, né?! ‘Mundo pra ser mundo tem que ter de tudo um pouco’, já dizia meu velho avô. A dita, quando fica dura, pode causar algum dano. Decerto eles sabem, pois advertir não basta. Talvez, queiram sentir a ‘dita-dura’ agindo em seus corpos e suas mentes. Não teria nada contra, desde que não fosse com o outro. Se fosse particular, aí sim, tudo bem. Mas acontece que não é. A ‘dita-dura’ come parelho. Quer dizer, geralmente, come quem não a quer, e nesse caso, é estupro. Muitos dos que a querem novamente, é porque foram privilegiados naquele tempo em que ela arrombou a pátria – por trás. Dizem-se ‘patriotas’, orgulhosos da bandeira, mas não sentem remorso em verem seus irmãos de chão ser censurados, perseguidos, torturados, violentados, mortos. ‘São tão justos!’ Chega dá dó. Você que gosta ou quer a ‘dita-dura’ em ação, procure uma que seja só sua, particular, e pare de ‘impor’ aos outros aquilo que nem todos (ou poucos) desejam.

2 . Somos herdeiros de um tempo duro, onde a ‘dita-dura’ comia solta. Nossas maiores heranças foram obras faraônicas superfaturadas, além dos arranjos entre o comando militar, grandes empresários, meios de comunicação de massa e a elite nacional e internacional que bem se serviram dos privilégios desse regime. Ou seja, somos herdeiros dessa ‘cultura de corrupção’ que muito se fala hoje, que não nasceu ontem, de fato, mas que, com a ‘dita-dura’, tomou mais força e se impregnou de vez nas nossas instituições públicas e privadas, e em muitas das práticas cotidianas. Outra grande herança deixada pelo regime, foi a educação. Não uma educação voltada para as relações humanas, mas para a burocracia e formalidade dessa estrutura e cultura mecanicista, onde o saber se fez fragmentado. Uma educação privativa, limitada, autoritária, militarizada, para todos e para ninguém. Assim também se fortaleceu a cultura da obediência, do medo, submetendo a cultura da diversidade e a educação reflexiva. Hoje, alguns professores, os mais ousados, se esforçam e sofrem para mudar essa realidade. As heranças da ‘dita-dura’, de tão dura que a dita foi, deixaram sequelas. Será que um dia elas terão cura?

“A fragmentação do pensamento e do saber é o modo mais eficiente de controle social" (Viviane Mosé)


3 . Uma frase de uma ‘amizade facebookniana’ dizia assim: "A ditadura nunca acabou para os índios e pobres do Brasil". E o que se pode ver pela TV é isso. Ou seja, a ‘paz’ armada ocupando as favelas do Brasil, onde as crianças são as maiores vítimas, entre a violência do Estado e do tráfico organizado. No pretexto de 'ordem' e 'combate às drogas', a estupidez de um Estado arcaico, violento e covarde, e o prevalecimento e também covardia do tráfico, faz as maiores vítimas desse sistema herdeiro: as crianças, velhos, doentes, pessoas comuns, moradores (na maioria afrodescendentes) da favela, onde ambos (Estado e tráfico) se encontram como violentadores da vida dos que só fazem lutar para viver. 

Enquanto isso, a esperança respira: "UFRGS inclui disco ‘Tropicália’ na lista de leituras obrigatórias para o vestibular 2015".



























* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó...



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