segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Das publicações

...de cunho underground e oficial

Durante muito tempo publiquei textos em zines (fanzines). Comecei com isso em 1995, ainda quando adolescente. Na época já lia muito, gostava de estudar e pesquisar. Dois anos antes, já havia iniciado minha trajetória no mundo do rock, formando minha primeira banda, a Gritos de Protesto (punk). Depois mudamos o nome para Igual a Nada e Restos de Nada. Foi então que descobrimos que já existiu uma banda com este nome, aliás, uma das primeiras bandas punk do Brasil. Definitivamente, assumimos o nome de Princípio do Fim (retirado de uma música dos Replicantes, banda que ouvíamos muito na época). Iniciamos com as publicações independentes em zines por causa da banda. Depois, foram anos dedicados a produção e vinculação dos zines, projetos relacionados ao rock, ao anarquismo, as bandas autorais. Contatos por todo o país e fora dele também. Na sua maioria, com outros zines e bandas de cunho punk-anarquista. Outros mais diversificados, falando de cinema, literatura, filosofia e quadrinhos. Foi também nesta época que comecei a me dedicar ao estudo de filosofia. Durante alguns anos me empenhei em ler livros de filosofia, movimentos artísticos e culturais e poesia, ver filmes B e Cult, juntar pessoas para criar fanzines e trocar informações, até que não suportei mais a rotina. Minha vida era do quarto a cozinha, da cozinha a sala. Ler, ouvir muita música, comer, assistir filmes e produzir fanzines. Meus pais na época já estavam pensando em um psicólogo para me analisar. Renegava o trabalho servil. Até que fui pressionado a trabalhar com um tio fotógrafo. Mais uma paixão surgiu disso, a fotografia. Como era muito ligado ao cinema, principalmente ao europeu na época, a fotografia de cinema era uma das poesias mais belas pra mim (e ainda é). Um tempo depois, já tinha um ‘arsenal’ de mais de 500 fitas k7 e uns 30 LPs, parte delas de bandas punk, psicobilly, ska, HC (antes da popularização do CD e da internet). Lembro que no período conheci Nirvana (antes mesmo dela estourar nas rádios), com um colega de sala de aula que trouxe uma fitinha do Nevermind de alguma capital (não lembro qual). Gostei muito da banda e então fui até uma loja de vinil que tinha aqui e encomendei o disco. Demorou alguns dias e quando chegou, não era o Nevermind. Mas mesmo assim, era Nirvana. O disco era o Bleach (o primeiro), que não havia estourado na mídia. Tão bom quanto o famoso Nevermind. A partir de então, Nirvana passou a ser a banda que mais rodava no meu aparelho de vinil, junto com os Ramones. Lembro que me gabava entre os meus, de ter o primeiro disco do Nirvana da cidade. Não demorou muito e Nirvana chega com tudo nas lojas e rádios, com o Nevermind no topo das paradas de sucesso. Isso, de certo modo, inaugurou um novo momento para o rock mundial de ‘estilo’ garage/alternativo que sofria de crise desde os anos 80. E os zines continuaram, mas não por muito tempo. Depois, da febre do Nirvana, passei a publicar, junto a outros amigos, jornais impressos, deixando o Xerox dos zines de lado. Foram anos também. Já com textos mais aprofundados, literários e poesias. Os zines eram datilografados em sua maioria, ou escritos a mão mesmo, com colagens e desenhos, depois, xerocados. Já os jornaizinhos, impressos em gráfica e feitos no computador. Além de idéias ‘subversivas’, de bandas e do mundo rock, agora se passa a vincular mais textos literários e filosóficos, além de crônicas, quadrinhos e dicas de filmes e livros. Se me perguntarem o motivo disso tudo, sinceramente, ainda digo que é a paixão, em primeiro lugar. Depois, a difusão de idéias e da arte mais ‘underground’, digamos. Foram vários materiais que nasceram e morreram da mesma forma: ‘no osso do peito!’ Independentes, de constituição clandestina e marginal, vinculando escritores, poetas, bandas, cinema, alguns malditos em suas condições, outros, nem tanto. Atualmente, ainda faço isso, mas de outra forma. Me adaptei parcialmente ao mundo virtual dos computadores, sites e blogs. E cá estou, ainda escrevendo e ainda publicando. Tudo ainda, muito restrito. Mas não abro mão deste mundo, no qual eu me criei e em que tanto me divirto e tenho liberdade para dizer. Agora, uma nova realidade da qual faço parte acontece, a publicação em meios ditos ‘oficiais’. Não faz muito tempo, fui indicado e depois contratado para publicar minhas crônicas em um jornal da cidade, o Voz do Oeste. Comecei a escrever nele, e mesmo em pouco tempo, os resultados já são visíveis. Recebo, volta e meia, emails e recados que elogiam e/ou criticam meus textos, e assim vai, e assim é. Como sou professor em escolas particulares, alunos, pais de alunos, amigos e até desconhecidos que me encontram por aí, vem e me falam dos textos que leram e sobre os textos. Também já me ligaram de outros veículos propondo novos trabalhos devido a isso. Talvez minha insistência esse tempo todo tenha gerado isso. Não sei. Mas estou aqui, fazendo entre outras coisas, uma das que mais gosto, que é escrever. Seja em meios ditos ‘alternativos, undergrounds, independentes’, ou em meios ditos ‘oficiais’, escrevo seguindo meus próprios anseios e dentro das minhas possibilidades, sempre respeitando o espaço que conquisto dia após dia, pois é nele que eu atuo - e sem precisar ‘me vender’ por isso, cabron!

No que acarreta um ser da minha laia escrever em meios ‘oficiais’?

Escrever em meios ‘oficiais’ não é algo tão novo pra mim. Tenho algumas publicações neste sentido espalhadas por aí. Novo, é escrever ‘profissionalmente’, ou seja, ganhando grana com isso/pra isso. Devido a um dos meus trabalhos atuais (que é o de escrever crônicas e afins em um jornal da cidade), algumas poucas pessoas que antes dialogavam e até elogiavam meus textos, passaram a me criticar. Antes fossem os textos (isso, algumas fazem, mas discretamente). Pessoas, por motivos ‘obscuros’, tornam isso algo pessoal, seguindo ideologias e/ou moralismos, além das suas dores. Teve até um sujeito que disse que eu almejo a ‘fama’. Fama? Claro! Se isso significasse respeito e admiração pelo meu trabalho, ‘do jeito que ele é’, certamente eu almejaria!  Alguns chamam isso de inveja, um sentimento gerado pela frustração de não estar onde se gostaria de estar, coisa que não pertence ao meu mundo, mas ao mundo ‘telenovelístico’. Uma noite encontrei um outro sujeito, um pouco torpe, que me pediu como era estar sendo lido no jornal, e se a sensação de poder era boa. Poder? Fiquei um tempo pensativo. Acabei respondendo o que o sujeito não gostaria de ter ouvido: ‘Cara, o que eu vou te dizer... a sensação é boa! Escrever é uma das coisas que eu mais gosto de fazer. Estou escrevendo o que eu quero e ainda ganhando pra isso! O que tu acha? Pode imaginar agora a sensação?’ O sujeito baixou os olhos e desconversou. Sou e sempre fui um crítico duro aos meios de comunicação de massa. Mas não é por isso que não deva fazer parte de um. Já gritei muito atrás das paredes ou trancado no fundo do meu quarto escuro. Até que um dia minha voz se cansou. Nisso, hoje tenho meus pés no chão, sou escovado e não me corrompo. Aos que me subestimam: Não se preocupem! Aprendi a valorizar algumas coisas e desprezar outras. Tenho cá alguns ‘princípios’ e certa virtude. Herança de família e daqueles que deixaram alguns ‘valores’ de transformação no seio da humanidade – não temo, pois não faço, nem farei, se caso houver, o jogo manipulador que existe em muitos veículos por aí. O resto é resto! Um espaço a mais para proliferar. Se para alguns ‘radicalóides’ eu vendo minhas linhas para um jornal qualquer, jogando ao lado do ‘sistema’ ou sei lá o que, pra mim, ocupo um espaço me ofertado e conquistado pela vocação ou perseverança do meu trabalho diário enquanto ‘escritor’ (mesmo sendo maldito, mediano ou limitado, como preferirem – novos tempos senhores!), um espaço de resistência dentro do próprio sistema, ou acham que os espaços são concedidos por caridade? Até o mais ‘punk’ participa de alguma maneira do dito ‘sistema’. Ou existe alguém por aí que escapa do consumo e/ou dos impostos? Se morasse em uma caverna, talvez! De uma forma ou de outra, todos dançam no baile, a diferença é que alguns tornam a dança uma forma de arte, através de alguma linguagem ou pelas entrelinhas, tendo claro seu ‘alvo’ e resistindo a padronização e vulgaridade da ‘ação’ permitida, gerando assim, possibilidades, enquanto outros, apenas reproduzem o que há anos já está sob controle, ou gritam pelos cantos pensando estarem livres do ‘contexto’, quando na verdade, seus gritos são apenas ecos do que há muito já foi feito e hoje se encontra condicionado. Ou seja, os gritos, no máximo, fazem parte do coral que embala o baile. Nisso, um ser da minha laia, que sempre produziu, resistiu, destruiu e criou no meio ‘independente’, quando adquire ou conquista um espaço em meio ‘oficial’ vira alvo fácil dos ingênuos e inofensivos ‘radicalóides’ e ‘intelectualóides’ de meia cancha. O grande problema de pessoas assim, é subestimarem ou outro. Um ato de quem recém nasceu pra vida mas ainda não despertou. Amigos, nem tudo e nem todos podem ser corrompidos ou comprados. Tem coisas que acontecem dentro do ‘sistema’ que geram, burlando as próprias regras do jogo que supostamente já está ganho... supostamente!

Teoria? Física? Filosofia? Não, não... é mais simples do que isso!  

1 + 1 = 2 (segundo a matemática, resultado par: tese + antítese).. insira + 1 e resultará num numeral ímpar (pense nisso como uma terceira via, a síntese do movimento dialético marxista).. agora mexa tudo dentro da cabeça, depois de umas três ou quatro cervejas (indico que ligue um disco dos Dead Kennedys ou Circle Jerks e saia pulando).. eis!

*Já que dois dos motivos deste blog são a manifestação e a contradição, nada mais oportuno do que trazê-las a tona. Portanto, confiram duas entrevistas de duas ‘personas’ da minha laia que geram...

Palavras do escritor e jornalista Xico Sá:


Palavras do ativista e jornalista Assange, do Wikileaks:


O CAOS NUNCA MORREU!

Um comentário:

Luiz Eduardo disse...

Muito bom...