sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Des-educar! (?)

 
O país que hoje é a 6ª economia mundial é o mesmo que é o 88º no ranking em educação, e ele se chama Brasil. Nas recentes semanas que se passaram comemoramos, oficialmente, o dia da criança e o dia do professor – assim como reza nosso calendário. A nível sociocultural, um está estrita ou diretamente ligado ao outro – e acho que não preciso dizer o motivo, não é?. Mas qual é o valor humano desses (criança e professor) numa sociedade como a nossa, que tem por base econômica o modo de produção capitalista? A criança, fruto da relação entre masculino e feminino, geralmente é a alegria da família, da casa, símbolo da esperança, assim como, de uma ‘continuidade’, trazendo a certeza da vida que se renova com seu sorriso, e a ‘selvageria’ livre que o adulto deixou pra trás na tenra luz da sua infância. Mas ela cresce, e quando atinge certa idade, vai para escola (para a igreja, em muitos casos, já foi ainda bebê). Na escola ela aprende coisas sobre o mundo, principalmente, regras, disciplina, conduta, certa moral, certos conceitos. E o meio usado pra isso, é aquele que tem a palavra, a linguagem adequada para a transmissão desses valores: o professor. Não é por nada que também o chamam ‘educador’. E o professor cumpre o papel de fio condutor entre, família, religião, sociedade (ou instituições sociais) e a criança. A partir do momento que essa transmissão vai sendo concretizada, a criança também vai perdendo sua ‘selvageria’. Parte significativa (e importante) dos seus instintos vão sendo transformados em convenção, limite e medo. E isso, senhoras e senhores, é o que podemos chamar de: ‘Educação’ – tcham, tcham, tcham, tcham! Sei que pode não ser surpresa alguma, mas isso também não é problematizado como acho que deveria, nem nos debates ou congressos universitários, nem na escola, quem dirá na família e na igreja. Mas o papel dessas ultimas também nem é esse. Antes, manter e reproduzir. Mas o das universidades, assim como o das escolas, é (ou deveria ser, pelo menos). A ‘lógica’ desse ‘caminho sociocultural’ vigente, basicamente e de um modo geral, é a criança crescer, e como seus pais, formar família, trabalhar, ganhar dinheiro (ou não), casar, sobreviver, até que tudo se desmanche no ar. Porém, existem curvas e desvios neste caminho que parece traçado. Nisso, cabe também ao professor apontar outros possíveis caminhos que não se resumam nessa ‘lógica’, tão óbvia e obediente a um modo de vida que tem por prioridade a produção econômica, ou seja, o acúmulo de capital e bens. O ser humano não pode ser medido apenas pelo que ele produz economicamente, pois é muito mais que isso. Nisso, viva os professores ou mestres que não assassinam por completo na criança a ‘selvageria’ criadora, aquela que, mesmo ela (a criança) se tornando adulta, permanece em seu eterno sorriso de quem brinca, tornando a vida divertida e não simplesmente uma obrigação. Que os números no início desse texto não permaneçam estáticos (um deles precisa melhorar urgentemente), e que o sorriso da criança seja por uma ‘educação’ que a mantenha ‘espirituosa’, e não a torne um adulto reprodutor de uma ordem social que há muito perdeu seu sentido de ser – isso, se teve sentido algum dia...
 
 
* publicado no jornal Folha do Bairro, do grande bairro Efapi, em 19/10/12
 
 
 
 

Nenhum comentário: