segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Escrevo para...


...que saia de mim algo que não seja eu. Para ser mais direto, por uma necessidade, em primeiro lugar. Depois, outros motivos ou razões vêm na carona. Desde muito cedo aprendi coisas. Fui precoce em muita coisa em que a maioria dos garotos da minha idade quando crianças não foram. Privilégio me ofertado pela natureza? Por uma necessidade? Talvez! Ler, escrever, pensar. Falar, demorei um pouco mais. Tinha dificuldades em me expressar, principalmente oralmente, e talvez, foi essa dificuldade, essa limitação, que me fez aprender algo em comunicação. O tempo passou e me tornei bastante comunicativo. De uma forma ou de outra, comunico (ou me comunico), tanto é que, trabalho com isso. Quase tudo que faço, profissionalmente (ou não), é diretamente vinculado à comunicação. Escrevo para um jornal além de siltes/blogs, componho e toco guitarra numa banda de rock, dou aulas e oficinas como professor, sou assessor e ajudo a pensar a comunicação do sindicato dos professores em que trabalho, pratico uma arte marcial (Wing Chun - estilo que está dentro do que é popularmente conhecido como Kung-Fu) e, volta e meia, faço registro de imagens através da luz (ou seja, fotografia). Em tudo isso há comunicação. E tudo isso, são formas de expressão e linguagens. De certa forma, vivo o mundo do dizer, e quanto tenho minha valorosa solidão, meu próprio silêncio, meu próprio afastamento, comunico-me internamente. O momento do ‘eu’ com o ‘meu eu’. Mas muitos me confundem - ou confundem-se comigo. Volta e meia saio à noite e encontro pessoas. Algumas não se importam com certos detalhismos e vem para um diálogo direto, sincero e alegre. Outras, mais receosas, talvez me idealizem, ou idealizam uma situação que não existe. É dessas que tenho que me cuidar. Querem ouvir exatamente aquilo que pensam – de mim, do que digo e do que acreditam. Mas não, não sou um ser do além. Não sou um arauto de supostas verdades ou razões. Não sou representante de nada, muito menos exemplo para alguma coisa (como querem algumas escolas, já que sou professor). Não sou moralista nem santo - “Antes um satiro a um santo”, como diria Nietzsche. Já me disseram intelectual, teórico, sociólogo, filósofo. Mas o que isso importa? Já me basta saber, pelo menos um pouco, da minha condição. Por incrível que possa parecer, me conheço relativamente bem, assim como conheço alguns dos meus passos. Às vezes erro, é certo, mas errar... (complete a frase!). Não sou o que pensam, não sou o que não sou. Sou isso e não aquilo (será?). Talvez o que eu seja não importe muito, mas importe o que eu produza. Então, vamos nos conter a isso, certo? Hoje, aos 95 anos, morreu um dos maiores ‘intelectuais’ que a história já teve, o historiador inglês Eric Hobsbawm. Hobsbawm deixou para o mundo, além da sua imagem (não, não é o Woody Allen!), seus estudos, suas produções escritas e pensadas, sua ‘voz’. E é isso o que lhe dá voz – com eco. E é por isso que o mundo ainda é mundo. E é por isso que a humanidade continua sendo. Escrever e pensar dá certo sentido ao mundo. Viva Hobsbawm!
 

Herman G. Silvani
 

 
 
*  em memória de Eric Hobsbawm


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