quinta-feira, 27 de junho de 2013

Leituras do Cotidiano - redução da maioridade penal?



A Redução da Maioridade Penal e a covardia adulta de cada dia...

Muitos dos que são a favor da redução da maioridade penal, são também favoráveis ao uso liberado de armas de fogo, assim como, muitos dos que são contra o aborto, são favoráveis a pena de morte. Contradição? Prefiro dizer: ‘incoerência’. Posições no mínimo suspeitas. Ignorância? Estupidez? Ingenuidade? Ou interesse ideológico? Pode ser tanto um quanto o outro, só não acredito na ingenuidade, neste caso. O que os favoráveis a redução da maioridade penal e ao uso livre de armas de fogo teriam a dizer daquele caso onde um pai imbecilmente levou sua filha junto e foi tirar satisfações com o dono de uma pizzaria (ambos adultos), acabaram se desentendendo e quem levou a pior foi a criança de 11 anos que morreu com um tiro na cabeça - pelo outro imbecil, que argumentou estar agindo em defesa própria? A estupidez adulta faz vítimas infantis.


O que a Redução da Maioridade Penal pode (ou vai) gerar?


Pode ou vai gerar uma ainda maior omissão do Estado e do mundo adulto para com as crianças e jovens, as principais e maiores vítimas dos seus excessos e descasos. Vai gerar a ‘transferência’ daquilo que seriam suas responsabilidades aos menores de idade que, se são infratores, é devido a esses descasos (e são muitos: intelectuais, culturais, familiares, básicos, humanos, existenciais, etc.). A redução não passa de uma ‘resposta’ medíocre para a satisfação ‘sádica’ de uma parte hipócrita da sociedade, infestada pela frustração de adultos reducionistas (que, com isso, irão se sentir apenas um pouco melhor, nas suas demências adulto-vingativas) - suas falhas e negligências sendo ‘compensadas’ pela punição daqueles que deveriam ser protegidos, respeitados e dignificados por essa sociedade. Se existem menores infratores, eles são o reflexo de infrações maiores que lhe são impostas como herança sociocultural: as ‘nossas’, adultos maios ou menos conscientes de seus papéis nessa ordem social, pois somos nós, adultos, os que têm maior força nesse modo de vida, constituído pelos nossos hábitos, vícios, covardias e modos. Uma sociedade que promove a disputa, a competição individualista, seus valores mesquinhos reproduzidos por um aparato publicitário, escolar, familiar, cultural, inculcados nas crianças que, abandonadas a toda sorte, irão penar para dançar conforme a música composta por nós e nossas ambições, e se não conseguirem adaptarem-se a isso, serão desclassificadas, julgadas, excluídas, marginalizadas e lançadas para fora da nossa festa, do nosso baile, da nossa dança macabra. O mundo adulto, geralmente, trata suas crianças, seus filhos, como objetos de seus desejos reprimidos, não saciados, das suas frustrações, e essas são herdeiras de uma cultura que não criaram, nem puderam opinar ou escolher. Portanto, eles, os menores são as vítimas primeiras do nosso modo seletivo de vida. E os moralistas, ordeiros, doentios por uma segurança que não existe, irão se deliciar vendo as vítimas das suas imbecilidades angustiarem por não serem como eles.


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 27/06 



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