A Redução da Maioridade Penal e a
covardia adulta de cada dia...
Muitos dos que são a favor da redução da maioridade penal, são
também favoráveis ao uso liberado de armas de fogo, assim como, muitos dos que
são contra o aborto, são favoráveis a pena de morte. Contradição? Prefiro
dizer: ‘incoerência’. Posições no mínimo suspeitas. Ignorância? Estupidez?
Ingenuidade? Ou interesse ideológico? Pode ser tanto um quanto o outro, só não
acredito na ingenuidade, neste caso. O que os favoráveis a redução da
maioridade penal e ao uso livre de armas de fogo teriam a dizer daquele caso
onde um pai imbecilmente levou sua filha junto e foi tirar satisfações com o
dono de uma pizzaria (ambos adultos), acabaram se desentendendo e quem levou a
pior foi a criança de 11 anos que morreu com um tiro na cabeça - pelo outro
imbecil, que argumentou estar agindo em defesa própria? A estupidez adulta faz
vítimas infantis.
O que a Redução da Maioridade
Penal pode (ou vai) gerar?
Pode ou vai gerar uma ainda maior omissão do Estado e do mundo
adulto para com as crianças e jovens, as principais e maiores vítimas dos seus excessos
e descasos. Vai gerar a ‘transferência’ daquilo que seriam suas
responsabilidades aos menores de idade que, se são infratores, é devido a esses
descasos (e são muitos: intelectuais, culturais, familiares, básicos, humanos,
existenciais, etc.). A redução não passa de uma ‘resposta’ medíocre para a
satisfação ‘sádica’ de uma parte hipócrita da sociedade, infestada pela
frustração de adultos reducionistas (que, com isso, irão se sentir apenas um
pouco melhor, nas suas demências adulto-vingativas) - suas falhas e
negligências sendo ‘compensadas’ pela punição daqueles que deveriam ser
protegidos, respeitados e dignificados por essa sociedade. Se existem menores
infratores, eles são o reflexo de infrações maiores que lhe são impostas como
herança sociocultural: as ‘nossas’, adultos maios ou menos conscientes de seus
papéis nessa ordem social, pois somos nós, adultos, os que têm maior força nesse
modo de vida, constituído pelos nossos hábitos, vícios, covardias e modos. Uma
sociedade que promove a disputa, a competição individualista, seus valores
mesquinhos reproduzidos por um aparato publicitário, escolar, familiar,
cultural, inculcados nas crianças que, abandonadas a toda sorte, irão penar
para dançar conforme a música composta por nós e nossas ambições, e se não
conseguirem adaptarem-se a isso, serão desclassificadas, julgadas, excluídas,
marginalizadas e lançadas para fora da nossa festa, do nosso baile, da nossa dança
macabra. O mundo adulto, geralmente, trata suas crianças, seus filhos, como
objetos de seus desejos reprimidos, não saciados, das suas frustrações, e essas
são herdeiras de uma cultura que não criaram, nem puderam opinar ou escolher. Portanto,
eles, os menores são as vítimas primeiras do nosso modo seletivo de vida. E os
moralistas, ordeiros, doentios por uma segurança que não existe, irão se
deliciar vendo as vítimas das suas imbecilidades angustiarem por não serem como
eles.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 27/06
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