segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Continuamos sendo...



















(fotografia do filme "Metrópolis" de 1927, dirigido por Fritz Lang)


Rua pra que te miro. Saio do quarto, atravesso o corredor que dá na sala, passo pela cozinha e saio pela porta de trás de casa. Ganho o pátio, saúdo meu cão que é anjo de guarda, saio pelo portão e ganho enfim a rua. Passos leves junto à solidão de um eu que em breve irá de encontro à multidão e fará, por alguns instantes, parte dela. Trabalhadores diurnos pegam o ônibus que os levará rumo à servidão que mata a maior parte do seu tempo e aos poucos, suas vidas. Consumidores chegam ao centro da cidade e confundem-se com os olhares de sorrisos plásticos das manequins de fibra ou gesso e são consumidos nessa consumação. Moradores de rua ainda dormem exprimidos debaixo das marquises - logo serão acordados e expulsos pelos comerciantes. E eu ando por que tenho passos e o chão debaixo deles ainda é viável, sob o policiamento das câmeras de monitoramento que me observam sem cessar. Estou protegido? Ou simplesmente vigiado? Sem respostas, mas com muitas perguntas, tomo o rumo da escola. A sala de aula é meu espaço de trabalho – um deles, no caso. Mais perguntas, mais questões e algumas respostas de poucas certezas. Em dias incertos de dúvidas constantes, o importante é não acostumar e continuar sendo, até que, essa coisa de futuro, se torne novamente presente, em que a vida seja uma condição e não apenas uma perspectiva...


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 30/08



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