(fotografia do filme "Metrópolis" de 1927, dirigido por Fritz Lang)
Rua pra que te miro. Saio do quarto, atravesso o corredor que dá
na sala, passo pela cozinha e saio pela porta de trás de casa. Ganho o pátio,
saúdo meu cão que é anjo de guarda, saio pelo portão e ganho enfim a rua.
Passos leves junto à solidão de um eu que em breve irá de encontro à multidão e
fará, por alguns instantes, parte dela. Trabalhadores diurnos pegam o ônibus
que os levará rumo à servidão que mata a maior parte do seu tempo e aos poucos,
suas vidas. Consumidores chegam ao centro da cidade e confundem-se com os
olhares de sorrisos plásticos das manequins de fibra ou gesso e são consumidos
nessa consumação. Moradores de rua ainda dormem exprimidos debaixo das
marquises - logo serão acordados e expulsos pelos comerciantes. E eu ando por
que tenho passos e o chão debaixo deles ainda é viável, sob o policiamento das
câmeras de monitoramento que me observam sem cessar. Estou protegido? Ou
simplesmente vigiado? Sem respostas, mas com muitas perguntas, tomo o rumo da
escola. A sala de aula é meu espaço de trabalho – um deles, no caso. Mais
perguntas, mais questões e algumas respostas de poucas certezas. Em dias
incertos de dúvidas constantes, o importante é não acostumar e continuar sendo,
até que, essa coisa de futuro, se torne novamente presente, em que a vida seja
uma condição e não apenas uma perspectiva...
* também publicado no jornal Folha do Bairro, 30/08
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