Começa a dita ‘semana farroupilha’ e a gauchada bate o mofo da
bombacha comprada na boutique tradicionalista para ir pro acampamento
farroupilha. Os mais gaudérios, o são o ano inteiro, mas tem daqueles que, pelo
menos, nessa época, saem do armário. Talvez não saibam que os ditos farrapos
não eram ‘esfarrapados’ como algumas versões da história contam. Mas muitos
deles, estancieiros escravocratas que tiveram que abrir as pernas pro império.
Mas, nisso, muitos foram realmente lutadores por um modo de vida ou tradição.
Outros, como os negros escravos, lutaram por uma liberdade que tardou ou nunca
veio. Sem desprezo, mas com questionamentos dessa história romantizada em prosa
e verso, hoje o sul se embriaga numa grande festa. O movimento republicano no
sul do Brasil foi precursor e forte, de fato, mas nem tudo foi ‘vontade de
república’. Mantiveram-se a ‘liberdade’ e a ‘igualdade’ revolucionárias da
França liberal-iluminista e positivista-maçonica, porém, a ‘fraternidade’,
nesses rincões gaúchos, foi substituída
por uma ‘humanidade’ não tão humana para os escravos e herdeiros da ‘pampa
pobre’. Ideologicamente, versões oficializadas que empobrecem a história, nos
dão a parte festiva e idealizada desse ‘movimento’. Porém, de outro lado, uma
história em farrapos e ferpas, feita, uma ‘não-história’. Então, cultuemos
também a nossa ‘não-história’ - se assim for - para que a riqueza da história
não se reduza também a farrapos...
* também publicado no jornal Folha do Bairro, 20/09 - 'dia do gaúcho (?)'
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