Um sopro de caos que há em mim, causa tempestades aqui
fora. Meu corpo se divide enquanto minha alma absorve o dia que se esconde para
não ter que ser engolido pela noite. Mas não tem jeito, a noite é uma bruxa que
abraça o mundo de tempo em tempo, enfeitiçando os ladrões, os amantes,
jogadores, bichas, loucos e sábios, boêmios, vigaristas, putas e poetas de
todas as estirpes. Cães ladram para a lua nestas noites de magia e depravação.
E como isso é bom! Enquanto tudo isso acontece, meu pensamento vagueia por aí,
atrás de uma diversão qualquer, longe deste mundo habitado por gente hipócrita.
Sei que alguns olhos negros, algumas mãos e bocas pecaminosas esperam por mim
em algum lugar dentro da noite. Sei que, além do sonho, está a realidade, e que
a noite sorri elegantemente, discreta, com sensualidade. Também sei que sonhar
faz parte disso tudo, e que no fim, estaremos rindo de nós mesmos. Até que a
noite se desfaça e o dia volte com seu sorriso tão branco e previsível.
* também publicado no jornal Folha do Bairro, 27/09
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