sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Apologia ao negror dos teus olhos


Um sopro de caos que há em mim, causa tempestades aqui fora. Meu corpo se divide enquanto minha alma absorve o dia que se esconde para não ter que ser engolido pela noite. Mas não tem jeito, a noite é uma bruxa que abraça o mundo de tempo em tempo, enfeitiçando os ladrões, os amantes, jogadores, bichas, loucos e sábios, boêmios, vigaristas, putas e poetas de todas as estirpes. Cães ladram para a lua nestas noites de magia e depravação. E como isso é bom! Enquanto tudo isso acontece, meu pensamento vagueia por aí, atrás de uma diversão qualquer, longe deste mundo habitado por gente hipócrita. Sei que alguns olhos negros, algumas mãos e bocas pecaminosas esperam por mim em algum lugar dentro da noite. Sei que, além do sonho, está a realidade, e que a noite sorri elegantemente, discreta, com sensualidade. Também sei que sonhar faz parte disso tudo, e que no fim, estaremos rindo de nós mesmos. Até que a noite se desfaça e o dia volte com seu sorriso tão branco e previsível.


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 27/09



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