quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Leituras do Cotidiano - 12/09

Educação para além da estrutura...























Não precisamos de escolaridade, de títulos, formalmente falando – mais do que já temos. É inútil aos avanços humanos e culturais, apenas ter. Precisamos de conhecimentos, aprofundamentos, possibilidades de olhares e pensamentos, acessos a esses ‘conhecimentos’, aos ditos ‘bens culturais’, principalmente nas periferias do Brasil. A dita ‘classe C’ cresceu, adquiriu certo poder de consumo dado a certo crescimento econômico do país. Mas, parafraseando a filosofa Viviane Mosé em uma fala sua: “não é uma boa roupa que caracteriza um desenvolvimento humano e sociocultural”. Nossa educação é ligada a produção. Mas não a produção do conhecimento intelectual, artístico e humanitário, mas a produção de bens e/ou produtos, facilitadores ou não da vida, do cotidiano, sob tudo, produtos de consumo. Novas tecnologias nos servem como alguns desses ‘facilitadores’, ao mesmo tempo em que são ‘dispositivos’ de controle (leia-se Giorgio Agamben), que em muitos casos, acabam nos limitando ao próprio uso dessas tecnologias, desses ‘dispositivos’, a serviço disso ou daquilo, mas não necessariamente da vida – que vai além do fator estrutural. Aí temos um amplo arcabouço de informações, o que, num primeiro olhar, nos parece algo bom, porém, essa quantia nunca antes tida de informações, não significa que tenhamos conhecimentos ou profundidade nelas. É preciso, acompanhando essas informações, conhecimentos que possam favorecer ou propiciar a elaboração de conceitos, idéias, fundamentos, possibilidades de olhares, para além do tecnicismo tecnológico ou do formalismo escolar. Segundo ainda Mosé, “o vilão da formação básica é a Universidade”, sendo que, é a partir dela que teorias são lançadas ao cotidiano (ou não), pelos que saem dos bancos acadêmicos rumo ao exercício das suas profissões - e entre esses, temos os professores que irão compor o quadro do que chamamos educação básica. Referente a isso, refaço os questionamentos de Mosé, frente ao discurso educacional atual que promove, não muito mais do que a estrutura: “Para que serve o ensino médio no Brasil? Qual é o seu sentido? Porque todo mundo tem que ir para a Universidade?”. Para uma saída saudável desse contexto reducionista, é preciso, antes de tudo, valorizar a cultura, as linguagens, as artes, o pensamento e a criatividade – para além do fator meramente econômico e estrutural. Mas, a realidade (assim como os investimentos necessários na educação) que temos ainda hoje, é formalizada, formalizadora e formalizante. Ela não dá conta de uma necessidade básica e fundamental humana: a construção de possibilidades culturais, artísticas e intelectuais, para além dessas formalidades e estruturas formativas técnicas. Depois da alfabetização a criança aprende gramática, e não interpretação ou leitura (leia-se aqui, leitura de mundo). Gramática é técnica, acessório, e não possibilidade de visão e ação sociocultural. Para se produzir textos e pensamentos com certa coerência, poética, sensibilidade, ideias, é preciso certo ‘conteúdo’, e para isso, acessos a certos conhecimentos. Eis o que a Universidade e depois a Escola, pouco cumprem, ao contrário, geralmente, engessam essas possibilidades com suas formas racionalistas e formalizadas de saber e agir, onde elas próprias acabam constituindo-se assim, em ‘dispositivos de controle’ ou ‘instrumentos de reprodução’. Portanto, o debate da Educação deve ir além da economia, da estrutura, dos métodos e técnicas. Ele precisa ter o teor do sensível e o sabor das inquietudes filosóficas e das dilacerantes aventuras poéticas.


(Inspirado na fala da filosofa Viviane Mosé no '2º Congresso Todos Pela Educação em Brasília', do dia 10 de Setembro).


* Também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 12/09




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