sexta-feira, 15 de novembro de 2013

República reeditada

A República nasceu em comum desacordo ou em incomum acordo, entre uma elite e o povo. A elite ficou com a terra e com o ouro, enquanto o povo... Bem, o povo até hoje, no ovo! A República foi velha, foi nova, e é velha de novo. Nossa reles pública! Nossa casa sem lar, nosso lar sem sentido, nosso sentido sem teto – e nossa glória sem terra. Somos ‘habitantes de cidades destruídas’, como bem canta José Paes de Lira – onde veículos afogam bicicletas. Somos filhos de uma ordem e um progresso importados que excluiu a nação nativa em detrimento de uma nação inativa. A partir disso, fundamos espaços de adestramento a que chamamos escolas, faculdades ou universidades. Fundamos bancos, cartórios, câmaras, senados, sanatórios. Cenas de uma realidade forjada em papel assinado, documento legalizado, legitimado, feito! Trocamos curas por cruzes e promessas nunca cumpridas. Casas de oração e doutrinamento, igrejas e lojas maçônicas, entre a farda e o fardo, deram a direção do vento. E o vento trocou de nome. Seja ele monarquia ou república, seja ele deus ou diabo, são facetas do mesmo plano, cães do mesmo rabo. Um plano terreno, baixo, como um golpe, uma rasteira de capoeira, arte nobre, preta,  que ainda não se ensina na escola. A República não foi uma proclamação, nem tampouco uma revolução. Antes, uma reclamação, ouvida e tornada verdade. Uma verdade, sob tudo, duvidosa. Acredite quem puder!



* também publicado no jornal Folha do Bairro, 15/11



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