A República nasceu em comum desacordo ou em incomum acordo, entre
uma elite e o povo. A elite ficou com a terra e com o ouro, enquanto o povo...
Bem, o povo até hoje, no ovo! A República foi velha, foi nova, e é velha de
novo. Nossa reles pública! Nossa casa sem lar, nosso lar sem sentido, nosso
sentido sem teto – e nossa glória sem terra. Somos ‘habitantes de cidades
destruídas’, como bem canta José Paes de Lira – onde veículos afogam bicicletas.
Somos filhos de uma ordem e um progresso importados que excluiu a nação nativa
em detrimento de uma nação inativa. A partir disso, fundamos espaços de
adestramento a que chamamos escolas, faculdades ou universidades. Fundamos
bancos, cartórios, câmaras, senados, sanatórios. Cenas de uma realidade forjada
em papel assinado, documento legalizado, legitimado, feito! Trocamos curas por
cruzes e promessas nunca cumpridas. Casas de oração e doutrinamento, igrejas e
lojas maçônicas, entre a farda e o fardo, deram a direção do vento. E o vento
trocou de nome. Seja ele monarquia ou república, seja ele deus ou diabo, são
facetas do mesmo plano, cães do mesmo rabo. Um plano terreno, baixo, como um
golpe, uma rasteira de capoeira, arte nobre, preta, que ainda não se ensina na escola. A
República não foi uma proclamação, nem tampouco uma revolução. Antes, uma
reclamação, ouvida e tornada verdade. Uma verdade, sob tudo, duvidosa. Acredite
quem puder!
* também publicado no jornal Folha do Bairro, 15/11
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