sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Leituras do Cotidiano, 20/02

Também quero reproduzir...

...como quero! Não precisar me esforçar para criar. Não ter o peso da consciência por um dia, um único dia, não ter sido criativo. Como professor, apenas repassar o conteúdo, sem problematizar, sem ‘colocar minhocas’ na cabecinha dos alunos, sendo um facilitador e assim me poupar de cobranças ou críticas que vêm, geralmente, daqueles que não sabem e nem querem saber por onde anda a virtude humana. Como escritor, ser um clichê ambulante, dizer o óbvio, inventar misticismos e tolices para o mercado do lixo-literário, falar o que não compromete o pseudo-intelecto do leitor-consumidor nem o interesse dos patrocinadores do veículo ou da editora que publica minhas obras. Como músico, morrer fazendo covers de bandas consagradas. Como compositor, não existir. Como fotógrafo, ter uma câmera que faça parte do trabalho por mim, além do melhor programa para manipular as imagens e torná-las comestíveis, a modo publicitárias de ser, para todos os que não tem sensibilidade para rasuras, poesia e contextos aplaudirem minha farsa.
Também quero reproduzir. Como quero! Não um reprodutor biológico e ter muitos filhos. Não, não é isso. Quero reproduzir o mundo, bem do jeitinho que ele é, como a cabeça dos que o mantém no equivoco das horas e dos dias, injusto, inconsequente, omisso, estúpido, medíocre, discursivo e hipócrita. Ser parte do jogo, onde o conhecimento é apenas um engodo, onde crianças são mal tratadas, imbecilizadas desde o berço até a idade adulta e que, talvez, quando velhas, descubram que não precisava ser assim ou que poderia ter sido diferente, mas daí já foi tarde demais e resta apenas um frustrado cabisbaixo nostalgicamente pensando: “Que pena!”.
Também quero reproduzir e não precisar explicar o que não pode ser explicado aos que me subestimam e subestimam minha obra ainda em construção, inacabada, integra e cheia de furos de bala. Não ser tratado injustamente como se tratam as crianças, os velhos, os bichos e alguns adultos que se dignificam fazer da vida algo além do que os olhos viciados veem. 
Também queria ser um reprodutor e ter sucesso sem inconvenientes. Mas não, não consigo. Sou um fracasso porque sou um criador.  Não consigo reproduzir e assim facilitar minha vida. Não consigo ser um reprodutor que limita o outro pelo medo do próprio crescimento – ou do próprio fracasso. Nasci para a arte e para expressão como quem nasce para a vida, sem tirar nem por. E é por isso que canto, danço e escrevo.


Wing Tjun Kung Fu: arte para além da luta...

Feliz em saber, da boca de alunos (‘irmãos’ Kung Fu), que as nossas aulas, a nossa prática e estudo, mudaram ou melhoraram suas vidas (e/ou estão mudando/melhorando). Eis um elemento desta arte que, muito além de marcial, é humana, cultural, social, filosófica, histórica, proativa. Estudar, praticar ou treinar W.T. é aprender a melhor se expressar com o corpo, melhor se mover, usar melhor a mente e a energia interna que ecoa e se junta a energia cósmica (integração entre 'corpo, mente e energia'), melhorar as relações humanas e ter mais visão e consciência do meio ou espaço em que se vive, entre outros. Eis os benefícios e motivos da prática. Eis a nossa arte!


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.




Nenhum comentário: