sexta-feira, 5 de junho de 2015

Leituras do Cotidiano

Excesso de Ocidentalização

Ocidentalização: processo através do qual sociedades não-ocidentais recaem sob a influência da cultura e/ou valores ocidentais.


Vivemos numa sociedade e cultura excessivas, uma das características ocidentais mais visíveis, porém, menos concebidas e discutidas por aqui. O excesso de ocidentalização nos faz céticos contra aquilo que não seja pensado ou produzido aqui no ocidente. Tomemos por exemplo as práticas cotidianas. Mas também temos a ciência, a medicina e o uso do corpo como domínios da territorialização que é a ocidentalização. Pensamos o mundo a partir das nossas crenças, numa razão que é só nossa e de mais ninguém, e não aceitamos muito bem que seja diferente. Praticamente não vemos nem praticamos o que está além do pretenso racionalismo moderno, mesmo que seja para contribuir com nossa forma de ser, ver e viver o mundo. Outro forte aliado da ocidentalização é o eurocentrismo, ou seja, esta mania de ver a cultura europeia como a mais ‘civilizada’ e ‘culturalmente adiantada’ do mundo, de onde brotam todas as verdades. Pois bem, não neguemos o valor, a riqueza científica e cultural da Europa, pois não se trata de uma mera negação. Porém, precisamos olhar mais para outras formas de ser e se fazer. Digo isso enquanto leitor de algo da filosofia pré-socrática (a que descobri a partir de Nietzsche), e da filosofia oriental ou asiática, já que também estudo/pratico, pesquiso e sou instrutor de um sistema de ‘arte marcial’ (prefiro chamar de ‘arte proativa’) chinesa, o Wing Tjun Kung Fu. Dito isso, a partir da filosofia oriental, trabalhamos com conceitos que no ocidente carregam outra conotação, enquanto outros, nem sequer existem por aqui. Um destes conceitos é o de ‘energia vital’, chamado na China de ‘Chi’ (o ‘sopro vital’ e/ou simplesmente ‘ar’). Conceito este usado inclusive na medicina milenar chinesa, uma ciência que, ao contrário da que prevalece no ocidente, que, ao invés de querer ‘combater’ males depois deles diagnosticados com a aplicação de tratamentos a partir do uso de ‘drogas’ laboratoriais, busca antecipar estes males, estas doenças, tanto do corpo quando da mente, a partir de uma prática cotidiana baseada na concentração mental em comunhão com técnicas de respiração, movimento e relaxamento físico, além de uma medicina natural (remédios, chás, alimentação) que, se bem praticadas e integradas, convergem em um estado de saúde que previne muitas doenças. Ou seja, uma ‘medicina preventiva’ a partir de modos de se perceber, sentir, conceber, estar e viver o mundo e a vida. Mas não é só na ciência médica ou na arte dita marcial que estas filosofias extra-ocidentais são aplicáveis. Em todos os aspectos da existência onde natureza e cultura se equilibram para ampliar a potência da vida. Um subjetivismo que vai além do pretenso objetivismo cartesiano ocidental (uma dos valores mais comuns na ocidentalização moderna). Equilíbrio é um conceito muito caro na ocidentalização, porém, é a principal busca da filosofia oriental. Nossa ocidentalização não nos permite ir além das formas e durezas com que o ocidente trata suas relações, seus corpos, seu tempo e espaço. Uma ocidentalização de cunho judaico-cristã e cientificamente cartesiana, que busca ‘resultados’ numéricos mais do que sensíveis. Por isso e por outras, é necessário romper um tanto com o academicismo ocidental, um dos maiores sacramentadores do ocidentalismo. Pensar e agir de forma mais autêntica, sincera e sensível é um bom caminho que, a velha filosofia dos velhos mestres orientais pode nos ensinar. Eis o sentido da busca por equilíbrio que acontece quando nos permitimos...


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



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