Excesso de Ocidentalização
Ocidentalização: processo através do qual
sociedades não-ocidentais recaem sob a influência da cultura e/ou valores
ocidentais.
Vivemos numa sociedade e cultura excessivas, uma das
características ocidentais mais visíveis, porém, menos concebidas e discutidas
por aqui. O excesso de ocidentalização nos faz céticos contra aquilo que não
seja pensado ou produzido aqui no ocidente. Tomemos por exemplo as práticas
cotidianas. Mas também temos a ciência, a medicina e o uso do corpo como
domínios da territorialização que é a ocidentalização. Pensamos o mundo a
partir das nossas crenças, numa razão que é só nossa e de mais ninguém, e não
aceitamos muito bem que seja diferente. Praticamente não vemos nem praticamos o
que está além do pretenso racionalismo moderno, mesmo que seja para contribuir
com nossa forma de ser, ver e viver o mundo. Outro forte aliado da
ocidentalização é o eurocentrismo, ou seja, esta mania de ver a cultura
europeia como a mais ‘civilizada’ e ‘culturalmente adiantada’ do mundo, de onde
brotam todas as verdades. Pois bem, não neguemos o valor, a riqueza científica
e cultural da Europa, pois não se trata de uma mera negação. Porém, precisamos
olhar mais para outras formas de ser e se fazer. Digo isso enquanto leitor de
algo da filosofia pré-socrática (a que descobri a partir de Nietzsche), e da
filosofia oriental ou asiática, já que também estudo/pratico, pesquiso e sou
instrutor de um sistema de ‘arte marcial’ (prefiro chamar de ‘arte proativa’)
chinesa, o Wing Tjun Kung Fu. Dito isso, a partir da filosofia oriental, trabalhamos
com conceitos que no ocidente carregam outra conotação, enquanto outros, nem
sequer existem por aqui. Um destes conceitos é o de ‘energia vital’, chamado na
China de ‘Chi’ (o ‘sopro vital’ e/ou
simplesmente ‘ar’). Conceito este usado inclusive na medicina milenar chinesa,
uma ciência que, ao contrário da que prevalece no ocidente, que, ao invés de querer
‘combater’ males depois deles diagnosticados com a aplicação de tratamentos a
partir do uso de ‘drogas’ laboratoriais, busca antecipar estes males, estas
doenças, tanto do corpo quando da mente, a partir de uma prática cotidiana
baseada na concentração mental em comunhão com técnicas de respiração,
movimento e relaxamento físico, além de uma medicina natural (remédios, chás,
alimentação) que, se bem praticadas e integradas, convergem em um estado de
saúde que previne muitas doenças. Ou seja, uma ‘medicina preventiva’ a partir
de modos de se perceber, sentir, conceber, estar e viver o mundo e a vida. Mas
não é só na ciência médica ou na arte dita marcial que estas filosofias extra-ocidentais
são aplicáveis. Em todos os aspectos da existência onde natureza e cultura se
equilibram para ampliar a potência da vida. Um subjetivismo que vai além do
pretenso objetivismo cartesiano ocidental (uma dos valores mais comuns na
ocidentalização moderna). Equilíbrio é um conceito muito caro na
ocidentalização, porém, é a principal busca da filosofia oriental. Nossa
ocidentalização não nos permite ir além das formas e durezas com que o ocidente
trata suas relações, seus corpos, seu tempo e espaço. Uma ocidentalização de
cunho judaico-cristã e cientificamente cartesiana, que busca ‘resultados’
numéricos mais do que sensíveis. Por isso e por outras, é necessário romper um
tanto com o academicismo ocidental, um dos maiores sacramentadores do
ocidentalismo. Pensar e agir de forma mais autêntica, sincera e sensível é um
bom caminho que, a velha filosofia dos velhos mestres orientais pode nos
ensinar. Eis o sentido da busca por equilíbrio que acontece quando nos permitimos...
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.
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