segunda-feira, 18 de junho de 2012

Falácias LTDA.





















Numa noite, dialogava com um amigo psicólogo e professor universitário (também bom contrabaixista) aqui de Xapecó sobre publicações. Publicações dessas que banalizam a comunicação e o pensamento, sem fundamento, muito comuns, principalmente em redes sociais e blogs. Não falo do fundamento teórico-científico (mas também dele), mas o fundamento de simplesmente dizer. Ta bom, eu tento explicar. Pessoas escrevem com certas finalidades ou intenções, embora alguns digam que não, que o fazem por simplesmente ‘precisarem’ e/ou escrevem pra si mesmos. Escrever pra si mesmo até se entende, num diário ou algo parecido, mas publicar, nunca é ‘só pra si mesmo’. No ato da publicação existe um interesse básico que é o de os ‘outros’ lerem. A falta de informação e conhecimento faz com que certas dessas publicações engordem a mediocridade e banalidade da ‘sociedade do espetáculo’ (leia-se Debord) - uma poluição. ‘Achismos’ vomitados em forma de textos enchendo a rede, o mundo virtual. Não ter conhecimento da prática do ‘outro’ e assim mesmo achar que se tem condição de falar sobre ela (a prática) é, por baixo, estupidez e mesquinharia do tipo telenovela, e em alguns casos, o ‘problema’ do Espelho na psicologia. E isso fica claro em determinados textos publicados. Já li a publicação de uma pessoa, no mínimo desinformada e nada sábia (pois subestimar o ‘outro’ assim como sua prática e/o trabalho não é coisa de gente inteligente): “Trabalhar em escola particular é moleza!”; ou que “TODOS (num tom generalizante e determinista) os professores das particulares são ‘acomodados e obedientes ao patrão’ - ganham bem – e são ‘obrigados’ a passar os alunos de ano” (e os imbecis ainda pensam nesse sentido - o de ‘punição’ – reprovar ou passar como castigo/punição ou vitória e senso moral de justiça – reproduzem um sistema equivocado e há muito ultrapassado) é no mínimo falta de conhecimento e informação, ou seja, estupidez. Também já ouvi/li algo do tipo: “A maioria dos alunos das particulares são idiotas” – ou algo nesse tom/sentido, pior, da boca (ou da dor) de um professor de filosofia da rede pública (só por esse tipo medíocre de comentário público, esse ‘tipo’ de professor deveria ser impedido de trabalhar com educação – e saber que o mundo é cheio desses deterministas que, por não terem postura/posição, nem leitura, acabam reforçando a cultura da reprodução, dentro e fora das escolas). Tamanha mediocridade não tem fundamento além do pré-conceito, aliás, o generalizante e determinista age por impulso e com falta de bom senso e criatividade, por mais que elabore e construa um texto, digamos, técnico, acaba caindo em ‘senso comum’ e reprodução, se justificando mais do que discutindo um tema - nisso, não passa de um falastrão que remói pré-conceitos e usa a linguagem de forma a reproduzir mais do que causar alguma movimentação ao meio. Os mesmos sabichões abrem a boca para, além da acessibilidade das moscas, falarem daquilo que, por falta de análise e conhecimento, não compreendem. Para melhor fluir o ‘diálogo’, vou me utilizar de um ‘personagem’, a que chamarei de ‘falastrão’.


Para além dos ‘achismos’ e ‘determinismos’: é preciso sentir o sabor para saber

“Gosto de ser gente porque a História em que me faço com os outros e de cuja feitura tomo parte é um tempo de possibilidades e não de determinismo.”  (Paulo Freire)                                                                                     
Li um texto de um desses falastrões pretendentes a filósofo que criticava o Terrorismo Poético do escritor, historiador, filósofo e 'agente do Caos' Hakim Bey, como se fosse algo meramente idealista e ‘efêmero’ por acabar sem resultados. ‘Na mosca falastrão!’. Pode ser efêmero porque não permanece. Pode não ser objetivo pois não dá ‘um resultado’, já que não se trata mesmo de algo utilitário. Mas idealismo? Ai, ai, ai! Essa foi horrível! Quando a teoria deságua, e muito bem, em práticas que geram transformações, nisso há um movimento, uma ruptura, que só não acontece mesmo no mundo ideal, então, é justamente o oposto do idealismo. Idealismo é o mundo unicamente das idéias, onde existe discurso e determinismo e não movimento, muito menos movimento caótico. O idealismo daqueles que vêem na abstração uma saída, uma fuga, um pretexto para se auto-afirmarem para ‘além’ da história, por mais medíocre que ela possa ser. Geralmente esses procuram na divinização de suas ‘verdades’, na contemplação passiva da obra de arte, um mundo que os conforte, onde pensem que existe ‘o melhor’, talvez um lugar confortável, distante das gentes e do andamento da história, um paraíso para suas pseudo-seguranças e conhecimentos estarem harmonizados no seus próprios convencimentos.  Aí é só convencer o travesseiro e dormir. “No edifício do pensamento não encontrei nenhuma categoria na qual pousar a cabeça. Em contrapartida, que belo travesseiro é o Caos!” (Emil Cioran). Existe um ‘livrinho básico’ de Hakim Bey que leva o título de TAZ (Zona Autônoma Temporária), uma obra de 1980 que cunhou muito das ações de ‘levante’ (e não ‘revolução’, cara pálida!) contemporâneos – leia-se agitações sócio-culturais e expansão da ‘livre’ informação-comunicação pelo mundo (você enxerga, sabichão?), considerando nada a mais, nada a menos, que a Teoria do Caos (leia-se física), e tendo como exemplo prático e real (e não idealista) os Piratas Bey e o Wikileaks. E o mesmo falastrão insiste em falar de ‘revolução’, sendo que Bey trata de ‘levante’ e não de revolução, e o TP está nas ‘entrelinhas’, na linguagem, na ação não revelada e não no ato visível e em si, nem no que está na ordem do dia das manifestações urbanas ‘policiadas’ e/ou ‘territorializadas’.


Metaforicamente há um clube...




















Realmente há uma luta...

Outro tiro pela culatra do falastrão é sua ínfima compreensão a respeito das linguagens que existem por trás das ‘obras’, personagens e/ou produções que a compõem. Podemos usar como exemplo O Clube da Luta (obra ‘literária’ – e não revolucionária – de Chuck Palahniuk, que acabou virando um belo filme nas mãos de David Fincher). Nesse caso, o falastrão afirma que o filme não é ‘uma possibilidade de revolução’ – meio óbvio, não é?  - sendo que esta obra é uma ‘metáfora’ daquilo que podemos chamar de ‘movimento caótico’, uma deixa, uma ‘leitura’, como são outros livros, quadrinhos e personagens – exemplos disso: ‘O coringa’ que foi magnificamente para o cinema numa das maiores interpretações de ‘anti-herói’ da história, e o quadrinho (que também virou filme) ‘V de Vingança’ (aí se comprova que a falta de estudo e conhecimento conceitual, assim como de contexto nas abordagens é mesmo um pé na lama). Bem, pelo mal uso dos conceitos, leituras e entendimento disso tudo, por si só, o falastrão se quebra. Cai na própria armadilha. Antes de tecer considerações sobre isso, é preciso atentar e conhecer um pouco (ou muito) da Teoria do Caos. E saber disso é se posicionar contra os determinismos filosóficos e ‘achismos’, inevitavelmente, assim, como as crenças nos resultados e finais. Aí entra um tempo que se trabalha muito na história e que muitos filósofos (os mais astutos) consideram. Falo do tempo espiral (caótico) da história, e não do tempo cíclico (determinista) nem do tempo linear (idealista) – e Marx se aproxima do movimento caótico (espiral) com sua dialética, porém, não é o mesmo (outra confusão comum entre os falastrões), pois sua teoria, no que pese a ação política, está na concepção de tempo linear-progressista (e não progressivo, como no ‘estilo’ erudito de rock). Não caro falastrão, Hakim Bey e seu pensamento não é-são idealista(s). Muito pelo contrário. Mas quem não tem a prática e confunde TP (Terrorismo Poético) com ações ‘didáticas revolucionárias’ e discursos  - ou pseudo isso tudo (?), realmente cai nesses ‘achismos’ discursivos. Portanto caro(s) falastrões, guardem-se de vomitar no ventilador – ao menos que gostem de se alimentarem com o próprio líquido azedo que volta dos seus estômagos - suas ignorâncias. Mantenham-se naquilo que se garantem (se é que isso existe para/em vocês), pois como diria Nietzsche: ‘só se fala daquilo que se superou’ – e é preciso, antes de tudo, assumir-se e superar-se – ‘quem sabe depois a gente possa conversar num nível, pelo menos, aproximado – ou menos desigual’. Volto a constatar que, subestimar o outro ou o conhecimento alheio com falácias e divagações textuais (ou vômitos em forma de textos?), é uma arma apontada para o próprio nariz – e tem gente tornando-se perita nisso. Alguns seguidores e/ou representantes desse tipo de ‘tendência’ (a dos falastrões), formam um ‘grupo’ (mesmo que assim não se percebam) e acabam fazendo papel de reprodutores das mediocridades e falta de criatividade – e inteligência (não pode ser outra coisa!) do ‘falastrão mestre’ - perdoem-me ‘mestres’ pela analogia. Enfim. Encerro por aqui, pois agora vou preparar o material para mais um dia de movimento (não confundir aqui ‘movimento’ com manifestação ou protesto de rua – putaqueopariu, tem que explicar tudo para que os falastrões não transformem o simples em burocracia e mesquinharia dos seus devaneios). Meus alunos, independente do espaço que estivem ocupando (seja ele um espaço público ou privado) – ‘para além do bem e do mal’ - terão momentos de ‘desconstrução’ e não da simples reprodução a que muitos são adeptos. 

“Devemos estar preparados para navegar, nomadizar, escorregar de todas as redes, nunca estabilizar, viver através de várias artes, fazer nossas vidas melhores que nossa arte, fazer da arte nosso grito no lugar de nossa desculpa”. (Hakim Bey)

hgs.



Um comentário:

Diogo Martins disse...

É, há mesmo. Só não vê quem não quer ou não enxerga mesmo.