sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Consumidos

















As ruas estão cheias. As bocas estão cheias. Palavras ao vento. Inúteis. Ora cruéis, ora redundantes. Ora mudas. As ruas estão cheias. Corpos que trafegam sem rumo ou rumando a lugar nenhum. Avenidas tomadas por um desespero cotidiano, por um passar de olhos sem alvo, sem brilho nem visão. Olhos que, dispersos num nada absoluto, dão em anúncios publicitários – banalidades do dia-a-dia. As ruas estão cheias assim como alguns corações repletos de dor e ódio. As ruas estão cheias de consumidores afoitos esperando o próximo sinal abrir ou o próximo ônibus passar. Irão aos shoppings, aos bancos, aos salões de beleza e as lanchonetes também encher, além das ruas, os estômagos famintos – com essa gordura que incha ou tranca as veias da cidade – como as suas próprias. As ruas estão cheias de amarguras, cães pestilentos e famintos, como os mendigos que por elas divagam. As ruas estão cheias de belas jovens estudantes que desfilam seus andares de coxas desnudas sob os olhares também famintos dos depravados espectadores, donos de comércio ou vigilantes diurnos. As ruas estão cheias de contradições e de promessas que jamais serão cumpridas. As ruas estão vazias de crianças que, trancafiadas em apartamentos ou confinadas por detrás das grades escolares, num futuro próximo encherão ainda mais as ruas que estão quase vazias de sentido - enquanto os carros enchem as ruas de petróleo e olhares de ambição. Mas esse é apenas um dos vários desenhos das ruas - & nesse desenho as ruas estão cheias de mentes vazias...


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 02/08




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