quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Unochapecó vai se transformar... em quê?

“Para o reitor Odilon Poli a universidade terá várias etapas ‘para se tornar a melhor universidade do Oeste na frente na Educação 3.0” (subtítulo de entrevista na p. 12 do jornal Folha do Bairro, edição de 26 de julho).

Como cronista e professor especializado em filosofia e sociologia na educação, não posso deixar de questionar tal informação. Começando pelo título da ‘novidade’: ‘Educação 3.0’ - uma nomenclatura de tom efêmero, mais adequada a lógica do mercado ou do capital e não do conhecimento - conste que o tema ‘educação’ não pode ser enquadrado nessa lógica (daqui um pouco estaremos falando em ‘3.0 GLS turbo’), pois deve estar além do domínio e interesse mercadológico, já que falamos em ‘universidade’, o que pressupõe, conhecimento ‘universal’, e não restrito a esse ou aquele fim determinado. “Se tornar a ‘melhor’ universidade do Oeste”? (gostei da ‘humildade’ em reconhecer então, que não é ‘a melhor’ – mas pretende se tornar). Então o objetivo é esse: ‘concorrer’, ou seja, ser parte (e já não é?) da jogatina reducionista desse ‘sistema’ competitivo e submisso ao capital (onde a educação é o mero ‘produto’, a ‘mercadoria’ em jogo)? Aprendi que universidade é bem mais que isso! – pelo menos é assim que reza seu conceito e a publicidade em torno do ensino dito ‘superior’.

Também é dessa mesma entrevista, quando perguntado sobre a ‘necessidade de mudança’, que o reitor responde: “(...) é importante ter presente que o nosso país vem fazendo um grande esforço para melhorar a educação, condição essencial ao seu desenvolvimento. (...) a partir da década de 90 do século XX, a sociedade brasileira (especialmente os empresários) passou a exercer uma forte pressão sobre os governantes, exigindo melhorias na educação (...). Essa pressão se deu em todos os níveis, uma vez que muitos egressos do sistema de ensino, não conseguem atender adequadamente às expectativas do setor produtivo.” (POLI, 2013). “Pressão”? “Especialmente os empresários”? Então quer dizer que a tal ‘reestruturação’ da universidade está pautada ‘especialmente’ nisso: ‘pressão e visão empresarial’? “Expectativas do setor produtivo”? Produção de quê? Técnicas, cabeças e corpos servis ao dito mercado? É isso? Se não for, por favor, me desculpem, mas essa questão está muito mal esclarecida.

Pois bem, e o ‘custo’ dessa mudança? Dessa ‘modernização’? Por enquanto, além de funcionários, em torno de 70 professores demitidos e sem diálogo com a categoria ou seu sindicato (o que configura demissão em massa, além de uma atitude truculenta, nada dialógica). Em nome de um ‘futuro’ incerto e de uma reestruturação que pretende ser simplesmente ‘a melhor’, e que leva um nome, no mínimo ‘questionável’: ‘Educação 3.0’. Nada está claro e nada é certo, mas de uma coisa eu sei, Universidade não pode ser um espaço pautado em interesses do dito mercado, da publicidade nem do empresariado - ou de um ‘desenvolvimento’ no mínimo suspeito, em pese que, o que está em jogo é a Educação, e esta, deve privilegiar o conhecimento, respeitando o estudante e o professor, reais agentes e motivos dessa ‘universalidade’.


Herman G. Silvani (professor e assessor do Sinproeste – Sindicato dos Professores do Oeste de Santa Catarina)


*também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 15/08




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