Solução?
Era uma tarde de semana e meu velho carro estacionado em frente a
uma loja num local bem movimentado da cidade. Na volta de um dos meus
trabalhos, encontro meu carro com o farol quebrado. Alguém batera nele numa
manobra mal feita, provavelmente. Acontece. Porém, nenhum resquício do autor
daquele prejuízo. Final de semana, visita à casa de um amigo e meu velho carro
estacionado em frente. Na hora de ir embora, a grade que protege o motor na
frente do carro em pedaços no chão. Novamente, nenhum resquício do autor. Desta
vez, não foi uma batida, mas um puxão ou um chute. Domingo pela manhã, cedinho,
horário em que trabalhadores descansam da semana exaustiva de trabalho, eu
dormia quando fui acordado por buzinaços, explosões de fogos de artifícios e
uma voz vinda de autofalantes em altíssimo volume. Era uma carreata de uma
igreja impondo aos ouvidos, sono ou descanso alheio seus discursos e apelos.
Acordei como tantos, irritado e perdi o sono. Outro final de semana, um domingo
madrugando segunda-feira, carros param na rua em frente de casa. Conversas e
som alto. Sertanejo universitário e suas letras débeis. E eu, como tantos,
obrigado a ouvir vozes e sons estridentes, além de uma conversa medonha, o
assunto: mesquinharias. Depois de tocar com a banda de rock de que faço parte
em algumas edições da FEMI (Festa do Milho em Xanxerê), neste ano não fomos
chamados, mas a foto da banda para a divulgação do ‘palco alternativo’ foi
usada – e sem autorização. Dando uma olhadinha na programação do evento, 99%
das atrações de ‘sertanojo universotário’ (olha ele aí mais uma vez!).
Televisão ligada em horários nobres: telenovelas e seus temas moralistas,
ideológicos, reducionistas, mesquinhos e medíocres, Big Brother, MMA,
espetáculo telejornalístico acima da violência, e aquela merda toda que muitos
engolem sem pensar e depois saem reproduzindo por aí. Notícia da semana, entre
tantas: Mãe negra e de comunidade (morro) de 4 filhos que criava mais 4
sobrinhos baleada numa troca de tiro entre policiais e bandidos. Suspeita
principal, a polícia. Não bastasse, no ‘socorro’, foi colocada no porta malas
da viatura que se abriu e arrastou a mulher pelas ruas, causando sua morte.
População revoltada ateia fogo em 3 ônibus. Resultado: espetáculo midiático e
mais repressão do Estado (policial) – e mais violência! Cultura! Educação! Enquanto
tudo isso acontece, helicóptero da polícia sobrevoa a capital do oeste em voos
rasantes queimando o dinheiro que é público, ou seja, o nosso dinheiro. ‘Mas
qual é a relação de tudo isso Herman?’. Começando do pessoal-local para o
universal, do privado para o público, e voltando, num ciclo ‘vicioso’ de
reprodução e soma: um sistema de bizarrices bem alimentado. Em suma: FALTA DE
RESPEITO COM O PRÓXIMO. EDUCAÇÃO E CULTURA MEDÍOCRES. FALTA DE ARTE, DE
EDUCAÇÃO E DE UMA CULTURA MAIS HUMANIZADA QUE PRIVILEGIE O SER E NÃO O TER.
Ainda me perguntam da solução. Solução? O que vocês acham? Vivemos um momento
de melhoria econômica e nos acessos. Mas só isso basta? Ou da forma que estamos
vivendo é pior? Aí quando digo que ‘se dane a Copa’ (não fazendo campanha
política ideológico-discursiva contra ela), alguns acham que sou contra o
governo, ou que estou ‘endireitando’ e blá-blá-blá. Não é isso. Se usarem a
inteligência e o bom senso perceberão o que deveria ser óbvio. Sofremos com a
nossa própria educação, cultura e valores (além da aparente perda da percepção). Enfim, que toda essa merda, que não nasceu
hoje, mas que se arrasta historicamente, engorde ainda mais essa cultura até
que ela morra de infarto. Talvez seja essa ‘a solução’...
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 21/03
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