Escola ou Centro de treinamento para vestibular?
Em janeiro, em viagem de férias para o litoral, eis
que entrando na capital do Estado percebo diversos outdoors que
pretensiosamente oferecem o ‘paraíso profissional’ aos seus clientes. Ou seja,
inúmeras publicidades de escolas particulares e faculdades vendendo seu peixe,
no caso, a promessa de uma ‘educação’ que garantirá um bom lugar ao sol (ou no
dito ‘mercado de trabalho’). O que vê muito por aí nos discursos publicitários e
inflamados dessas escolas, é essa ‘promessa’, a de um futuro que nem sequer
existe. Estudando sobre isso, desenho na minha cabeça uma separação, uma
diferença entre aquilo que chamo ‘escola’ e aquilo que chamo ‘centro de
treinamento para vestibular’. Então, qual é a diferença entre ‘escola’ e
‘centro de treinamento para vestibular’? Como professor e estudante de
filosofia, me dedico atualmente em leituras e pesquisas na área da educação e da
cultura. Nisso, lendo a mais recente obra da filosofa, poeta e psicanalista,
Viviane Mosé, intitulada ‘A escola e os desafios contemporâneos’, onde constam
várias e boas entrevistas de pensadores e professores neste assunto, Mosé ao
entrevistar o professor Moacir Gadotti, diz que: “Vestibular é talvez a maior representação da educação bancária no
Brasil”, sendo que, a chamada ‘educação bancária’, basicamente é aquela
onde o professor deposita conteúdos na cabeça do aluno sem a devida
problematização. Dentro dessa discussão, o professor Gadotti, referindo-se
também ao vestibular reitera: “O dano que
ele causa inicialmente é a interferência que faz nos currículos do Ensino
Médio. Quer dizer, o Ensino Médio seria o espaço da formação da cidadania, e
para o trabalho também, para a vida. E acaba se reduzindo a descobrir macetes
para passar no vestibular. É como articular o pensamento, digamos, para fazer
uma prova que consiga estar de acordo com aquilo que os examinadores vão
querer. O objetivo não é pensar, o objetivo é passar no vestibular”. Nisso,
qual é o papel da escola na sociedade? O que vejo, neste sentido, em grande
parte, são centros de treinamento para vestibular e não escolas. A escola deve
ser um espaço de vivências, humanizadas e não coisificadas. Um espaço de
experiências, que valorize o corpo e sua presença, o pensamento, a
criatividade, as linguagens, as diferenças e as várias manifestações
artísticas, as expressões. Enquanto um centro de treinamento para vestibular,
não passa daquilo que o próprio título, claramente, já diz. Mas quantos desses
centros se autoproclamam escolas? Em suma, é preciso rever a postura e
fundamento de parte significativa das instituições escolares, assim como das
faculdades, pois se trata de redimensionar o alvo, o sentido da educação. Ou
seja, uma nova alfabetização precisa acontecer, onde se reaprenda a pensar,
ler, ver e perceber o mundo, tendo em vista o outro e a própria vida, e não
meramente o dito mercado de trabalho: "O processo de alfabetização é leitura do mundo, é leitura de si, leitura dos outros, leitura da
realidade. E como estar vivo é ler, reler, continuar lendo, desconstruindo as palavras e os sentidos e construindo
novos, somos permanentes alfabetizandos e alfabetizadores, nesse sentido. Não
sabemos tudo, e aquele que se julga 'não, já sei de tudo', cutuque porque
morreu! Virou múmia. Porque sintoma de vida é pergunta, é problema, é
perdição, é caos criador.” (Madalena Freire, entrevista no livro: 'A escola e
os desafios contemporâneos' de Viviane Mosé).
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó...
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