No ventre da pampa...
Criei-me no campo. Mas também na cidade. Entre Xapecó e Caxambu do
Sul. Na época, Passo Fundo, se comparada a Xapecó, era chamada de ‘cidade
grande’, e pra lá eu ia meio direto visitar parentes estimados. Nascido em
criado em uma família tipicamente gaúcha, pois foi do Rio Grande do Sul que
vieram meus avós, tanto paternos quanto maternos, e assim foi com meu pai.
Natal José Silvani, um gaúcho da região de Erexim que conserva muitas das
tradições, um dos fundadores do primeiro CTG da cidade, ainda nos anos’70,
entre outros. Entre o belíssimo sítio dos meus avós maternos, o matadouro do
meu avô paterno e a cidade, eu cresci. Entre canções e poesias nativistas
aprendi minha primeira forma de linguagem artística. Eu era criança. Cresci um
tanto e me tornei campeão em declamação de poesia gaúcha em todo o Sul do
Brasil. Viagens, rodeios, concursos em que sempre trazia medalhas ou troféus
para casa, a maioria deles, de primeiro lugar (modéstia parte! – risos). Meu
pai, um grande declamador e trovador que também arranha uma ‘oito baixos’
(gaita ponto) e um violão espanhol (nylon), foi quem me ensinou. Criterioso, o
seu Natal não dava mole. Sofri um pouco, mas aprendi algumas coisas que
acabaram me impulsionando a outras. Quem me vê e quem me viu. De artista gaúcho
a guitarrista e compositor de rock. Entre bombachas e alpargatas, chiripás e
botas, durante um bom tempo fui ‘gauchista’. Vou usar o termo ‘gauchismo’ para
me referir a esta postura que é (nem que seja volta e meia) estar tipicamente
pilchado (referente ao traje gaúcho) e manter algumas práticas referentes a
certos aspectos da cultura gaúcha, daqueles que, no caso, frequentam CTG’s,
rodas campeiras e afins. Até hoje mantenho com meu pai um razoável acervo
musical em disco de vinil de artistas gaúchos, sob tudo, nativistas, os meus
preferidos. Em algumas das minhas viagens a Porto Alegre, de anos atrás,
percebi certo embate entre dois movimentos dentro desse ‘gauchismo’. De um lado
os chamados tradicionalistas, do outro, os nativistas, e isso demonstra que o
‘gauchismo’ não é feito apenas de um único viés cultural, a política existe
dentro dessa ‘ótica’, dessa cultura. Por fim, larguei a um bom tempo das
bombachas, porém, tenho muito respeito a elas, mas não como sendo algo saudosista
ou puro, mas simbolicamente falando, ou seja, respeito alguns aspectos dessa
minha ‘origem’ (uma delas, no caso), pois também fui construído enquanto ser
social dentro dessa cultura, e parte dela se mantém viva em mim. Encerro este
breve relato com uma estrofe da poesia Eis
o homem, de Marco Aurélio Campos (Os Teatinos):
Brotei no ventre da Pampa,
que é Pátria na minha Terra.
Sou resumo de uma guerra
que ainda tem importância
Diante de tal circunstância,
segui os clarins farroupilhas
e, devorando coxilhas,
me transformei em distância.
que é Pátria na minha Terra.
Sou resumo de uma guerra
que ainda tem importância
Diante de tal circunstância,
segui os clarins farroupilhas
e, devorando coxilhas,
me transformei em distância.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.
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