Contraponto...
Atualmente colhemos o descaso de antigamente. São linchamentos
(por alguns, estupidamente chamados ‘justiçamentos’), assassinatos, violência
policial, corrupção em muitas esferas, e muitas outras formas de violência que
inundam a programação televisiva e as nossas vidas. Mas nada disso é novo
senhoras e senhores, e não é tudo culpa do governo atual como os reducionistas
ou mal intencionados querem fazer crer. Enquanto alguns são convencidos, o
espetáculo midiático faz altos pontos de audiência, e nós, povo, pasmados,
vemos tudo de boca aberta, acreditando que o problema é novo, recente, de agora,
conforme quer que acreditemos os interesses que existem por trás de todo este
espetáculo. Desculpem pela interrupção dessa sua ilusão, mas o problema é
antigo, histórico. Pior, cultural! Sim, nosso movo de vida, nossa ‘cultura
macro’ é doente. Tanto que, muito do que acontece (ou não, pois às vezes não
passam de rumores), se torna ‘viral’, ou seja, se reproduz e se espalha numa
velocidade típica de quem tem pressa e urgência – em mudar? Alguns! Muitos,
pressa em morrer. Sim, morrer, pois o tempo voa e nós, fixos com nossos olhares
no abismo, caímos sem sentir, anestesiados por sentimentos de ódio, rancor,
mágoa, frustração, vingança, competição, ganância, entre outros. Há muito o
abismo olhou para quem fixamente ainda olha para ele (leia-se Nietzsche). Tanto
que, muito do prazer de quem é massificado, não está no que é positivo, pertinente,
abrangente, amplo, possível, mas sim, está naquilo que é negativo, pessimista,
diminuto, mesquinho, medíocre, assim como parte significativa das notícias,
filmes, novelas e toda a programação televisiva. Uma enxurrada de informações
desconexas, rumores, intrigas, onde produtos carregados de ideologias e valores
medíocres dão a direção por onde a caravana deve andar, fenômeno típico de uma
sociedade que se informa e se ‘intelectualiza’ através dos meios de comunicação
de massa, assim como, de um sistema educacional precário e defasado em quase
tudo. Não, não estou sendo pessimista, niilista ou algo que valha, apenas
escrevo sobre o pouco que percebo, sinto e sei, a modo de crítica, reflexão e,
quem sabe, impulso para uma desconstrução. Isso mesmo, desconstrução! É
preciso, antes de mais nada, desconstruir. E os meios pra isso estão aí
(também!), basta que, quem os utilize, o faça de maneira a contrapor a
massificação e a reprodução dessas mazelas comunicativas e culturais.
Uma resposta do ‘velho Buk’ aos
que criticam o ‘digno escriba’ por ele ‘vender’ ideias ou palavras:
“Mas passar fome, infelizmente, não melhora a arte. Apenas a obstrui. A
alma de um homem está profundamente enraizada em seu estômago. Um homem pode
escrever muito melhor após comer um belo pedaço de filé acompanhado de uma dose
de uísque do que depois de uma barra de caramelo de um níquel. O mito do
artista faminto é um embuste.” (Charles
Bukowski)
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó...
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