sexta-feira, 16 de maio de 2014

Leituras do Cotidiano, 16/05

Contraponto...

Atualmente colhemos o descaso de antigamente. São linchamentos (por alguns, estupidamente chamados ‘justiçamentos’), assassinatos, violência policial, corrupção em muitas esferas, e muitas outras formas de violência que inundam a programação televisiva e as nossas vidas. Mas nada disso é novo senhoras e senhores, e não é tudo culpa do governo atual como os reducionistas ou mal intencionados querem fazer crer. Enquanto alguns são convencidos, o espetáculo midiático faz altos pontos de audiência, e nós, povo, pasmados, vemos tudo de boca aberta, acreditando que o problema é novo, recente, de agora, conforme quer que acreditemos os interesses que existem por trás de todo este espetáculo. Desculpem pela interrupção dessa sua ilusão, mas o problema é antigo, histórico. Pior, cultural! Sim, nosso movo de vida, nossa ‘cultura macro’ é doente. Tanto que, muito do que acontece (ou não, pois às vezes não passam de rumores), se torna ‘viral’, ou seja, se reproduz e se espalha numa velocidade típica de quem tem pressa e urgência – em mudar? Alguns! Muitos, pressa em morrer. Sim, morrer, pois o tempo voa e nós, fixos com nossos olhares no abismo, caímos sem sentir, anestesiados por sentimentos de ódio, rancor, mágoa, frustração, vingança, competição, ganância, entre outros. Há muito o abismo olhou para quem fixamente ainda olha para ele (leia-se Nietzsche). Tanto que, muito do prazer de quem é massificado, não está no que é positivo, pertinente, abrangente, amplo, possível, mas sim, está naquilo que é negativo, pessimista, diminuto, mesquinho, medíocre, assim como parte significativa das notícias, filmes, novelas e toda a programação televisiva. Uma enxurrada de informações desconexas, rumores, intrigas, onde produtos carregados de ideologias e valores medíocres dão a direção por onde a caravana deve andar, fenômeno típico de uma sociedade que se informa e se ‘intelectualiza’ através dos meios de comunicação de massa, assim como, de um sistema educacional precário e defasado em quase tudo. Não, não estou sendo pessimista, niilista ou algo que valha, apenas escrevo sobre o pouco que percebo, sinto e sei, a modo de crítica, reflexão e, quem sabe, impulso para uma desconstrução. Isso mesmo, desconstrução! É preciso, antes de mais nada, desconstruir. E os meios pra isso estão aí (também!), basta que, quem os utilize, o faça de maneira a contrapor a massificação e a reprodução dessas mazelas comunicativas e culturais.  


Uma resposta do ‘velho Buk’ aos que criticam o ‘digno escriba’ por ele ‘vender’ ideias ou palavras:   

“Mas passar fome, infelizmente, não melhora a arte. Apenas a obstrui. A alma de um homem está profundamente enraizada em seu estômago. Um homem pode escrever muito melhor após comer um belo pedaço de filé acompanhado de uma dose de uísque do que depois de uma barra de caramelo de um níquel. O mito do artista faminto é um embuste.” (Charles Bukowski)


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó...



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