A Copa e o
espírito patriótico
Saio pelas ruas da cidade na semana em que
começa a Copa do Mundo de futebol. Um diferencial: este ano a Copa é no Brasil,
o ‘país do futebol’. Impressão minha ou o ‘espírito
nacional-festivo-decorativo’ do comércio está mais tímido do que das outras vezes?
Não sou contra a Copa. E nem a favor. Aliás, nunca fui. Não caio de amores por
futebol, ainda mais quando ele serve ao espetáculo midiático cotidiano. Sempre
fui um tanto crítico quanto a isso, e não é agora que deixarei de sê-lo. Porém,
quanta estupidez estou vendo, justamente neste ano em que a Copa é no Brasil.
Para quem assiste, torce e gosta de futebol, sob tudo pela televisão, ou seja,
grande parte da população, hoje seria, talvez, o melhor momento para essa
‘euforia patriótica’. Mas está acontecendo um pouco o contrário. Anos passados,
escolas e comércio, tudo muito enfeitado para a Copa. Mas este ano, sendo a
Copa no Brasil, pela ‘lógica’, esse ‘espírito nacional’ deveria estar ainda
mais forte. Mesmo não sendo entusiasta do futebol, penso que, hoje teríamos os
maiores motivos para uma ‘euforia patriótica’, pois vivemos nosso melhor
momento socioeconômico, historicamente falando, além de termos na pauta do dia
um debate que anos atrás era ‘ignorado’, o da corrupção. Aliás, nunca se
investigou tanto, se prendeu e puniu tanto a corrupção no país como hoje, sendo
que ela sempre existiu. Se hoje ela não
fosse visível (como já não foi um dia), certamente as ruas da cidade estariam
bem mais ornamentadas para a Copa, assim como o ‘espírito patriótico’ do comércio
e da população em geral. Em se tratando de corrupção, não que hoje seja uma
‘maravilha’, mas cá entre nós, os corruptos e a corrupção sempre estiveram por
aí, a diferença é que hoje se está acontecendo alguma coisa, porque algo se
está 'movendo' e não apenas sendo encobertado como já fora num passado não tão
distante. ‘Muito’ (e não ‘tudo’) do que se reluta em relação a Copa, é devido a
falta desse discernimento. Infelizmente, isso comprova que, devido a essa
ingenuidade (ou estupidez?), a contradição de uma sociedade permeada pela falta
de bom senso e percepção histórico-social, a torna o que é. Ou seja, uma
sociedade onde se discursa contra a corrupção, em defesa de uma suposta pátria
ou nação, que, cá entre nós, dada a essa contradição, até se desconfia de que
ela nem sequer exista...
Das incoerências
futebolísticas...
Torce euforicamente para a chapecoense (sob
tudo no modismo da série A), mas não vai torcer para a seleção brasileira por
motivos 'pretextuais' de corrupção. Acontece que, 'aqui não há corrupção, não
é?', ou 'a corrupção dos outros não é a nossa', assim por diante. 'Baita
coerência!' Você é uma 'pessoa mui digna'... de pastar junto a todo o gado...
Morre um 'personagem real' das ruas de Xapecó...
Não era de família nobre ou
tradicional. Não tinha descendência de coronel nem sangue azul nas veias.
Apenas mais um personagem real das ruas de Xapecó, como tantos. 'Invisível'
para muitos, visto e estimado por alguns. Nenhuma rua ganhará seu nome, nem
tampouco um busto seu será erguido na praça central. Nesta segunda-feira fria
de outono, encontrado no banheiro do terminal urbano morto, mais um morador de
rua, filho de Xapecó...
· Em memória de Jocemar Moraes, o ‘cavalinho’.
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