sexta-feira, 27 de junho de 2014

Leituras do Cotidiano, 27/06


Lula, Dilma, PT e o ‘capitalismo social’ contemporâneo

O capitalismo é um modo de produção que se tornou, de certa forma, um modo de vida, quando integrou na cultura e educação seu modus operandi. Historicamente, podemos falar nele começando com os burgos ainda na Idade Média europeia, vilas onde o comércio se intensificava. Depois, tivemos Lutero e sua contestação aos dogmas da Igreja Católica, no nascente protestantismo que tolerava o lucro pessoal, ao contrário do catolicismo vigente da época. Deu-se o renascimento e seu humanismo, o futuro do cientificismo, do racionalismo e de um individualismo que valorizava o feito humano, separando ele de Deus. Logo após, ou junto a essa ‘passagem’ de épocas, vieram às ideias iluministas e seu liberalismo, que alimentaram ainda mais esse ‘eu’ e sua forma própria e pessoal de ser e estar, mas que também influenciou o que ficou conhecido como ‘pensamento social’, tendo correntes como o socialismo utópico, o anarquismo, o socialismo científico, o comunismo, entre outros. Deu-se a Independência dos Estados Unidos da América e em seguida a Revolução Francesa, dois momentos que transformaram o mundo, sob tudo ocidental, elevando as ideias iluministas ao topo do pensamento. Depois, tudo se materializa firmemente com a Revolução Industrial na Inglaterra. Adentramos no mundo contemporâneo com a crença na ciência como algo ‘inquestionável’ e com as características essenciais do modelo fabril de produção e de vida (cultura), onde a fragmentação dada pela divisão do trabalho e das ‘especializações’ científicas cunham os valores mais efetivos e cotidianos dessa sociedade. Nisso, o capitalismo ‘original’ sofre alterações, sendo um dos sistemas produtivos, políticos e de vida, dos mais dinâmicos que já existiram, senão o mais. Absorvendo conceitos e ‘se utilizando’ de concepções como as de democracia e liberdade, o capitalismo se faz ‘camaleão’. Várias formas de vida e pensamento se adaptam a ele. Tanto que, na França, vigora uma tal de ‘social democracia’, um tipo de ‘socialismo capitalista’, ou seja, que tem forte presença do Estado, mas que dá liberdade ampla as ações do setor privado (principal elemento do capitalismo), e que acaba influenciando outros Estados pelo mundo. O Brasil, neste contexto, hoje, mais do antes, vive seu esplendor no liberalismo econômico com pitadas de intervenção socialista de Estado, o que podemos chamar de ‘capitalismo social’, ou seja, um modo capitalista de Estado que tem vistas para o social, para além da produção industrial, muito semelhante a ‘social democracia francesa’. Dentro disso, dois presidentes foram fundamentais neste contexto, são eles, Lula e Dilma, do PT (e seus aliados). Não fazem mais do que 12 anos que ‘nosso capitalismo’ avançou a nível socioeconômico, sendo antes ‘neoliberal’ e ‘conservador’, ou seja, mais intolerante com o social do que hoje. Muitos enlouquecidos divagando pelo mundo da comunicação, dizem que o comunismo vai tomar conta do país. Deixo-os tranquilos quanto a isso. Nunca fomos tão bem estruturados no modo de produção capitalista quanto hoje, já que saltamos estando entre as 10 maiores economias capitalistas do mundo. Mas, além disso, nosso fator social, nunca foi tão assistido  também, com seus projetos: bolsas, cotas e afins, para a sobrevivência de alguns e a indignação de outros. Portanto, estamos na ‘nossa melhor fase histórica’ desse ‘nosso capitalismo’ que hoje, exclui um pouco menos. Bem ou mal, gostemos ou não. Quando digo isso, me refiro ‘de uma maneira geral’ e não ‘relativa’, ou seja, falo em números e de forma ‘genérica’. Mas homens não são números. E assim sendo, nosso ‘capitalismo social’, talvez, por ser ‘social’ e não apenas ‘econômico’, seja o mais avançado possível, dentro dessa ‘nossa história’ tão excludente e seletiva. Talvez! E a acusação de um país ‘atualmente’ deplorável não passa de cisma, mágoa ou interesse, apontada pelos privilegiados que ainda existem, infelizmente! Não esperemos muito deste algo que chamamos ‘sistema capitalista’ amigos! Sejamos razoáveis! Dos ‘capitalismos’, esse ‘nosso’, não é dos piores. Mas que isso não seja motivo para conformidade, muito pelo contrário, para que possamos pensar e agir dentro dele, para ‘além do bem e do mal’, dos discursos e disputas ideológicas que também o tornam a ser.


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó...



Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom seus textos. Parabéns.