sexta-feira, 11 de julho de 2014

Leituras do Cotidiano, 11/07

Neymar e a canonização do ícone

Difícil de digerir tanta estupidez, mediocridade e ideologia. De um lado, críticos ignóbeis que atribuem todas as mazelas históricas e culturais do Brasil ao atual e passageiro governo da presidenta Dilma. Do outro, o discurso ideológico-governista que se junta ao 'discurso midiático do espetáculo' na canonização de um 'sofredor, libertador e semideus'. Trata-se do 'milionário' jogador de futebol Neymar. Não ignoremos o fato de que, além de bom atleta, ícone e ser humano (de carne e osso – ‘sim, incrível né?!’), ele é um símbolo e um produto. Domingo passado na televisão foi um domingo de lamentações e glorificações em torno deste 'símbolo'. Depois da lesão, Neymar foi tornado ainda mais do que é. Mensagens do público de: 'Força Neymar!', 'Herói brasileiro!', etc., se difundem pelo (al)facebook, viralmente - e a 'sociedade do espetáculo' firme e forte na alienação das massas e manutenção de um sistema, de uma cultura e educação que tem referências medíocres, no que é 'distante' e 'ideal'. A crença num messias que dignifique a massa sofredora e as faltas de uma 'pátria de chuteiras', como bem anotou o cronista/escritor Nelson Rodrigues. 'Nossa mania de cristandade'. Nisso, ambos os lados caem na 'lorota' de um acréscimo numa cultura que se reproduz e se mantém, graças à 'pequenez' desse 'sentimentalismo barato' e desse 'discurso ideológico' em torno de um ícone que, canonizado, se torna 'herói' ou 'semideus' - para a boa saúde do espetáculo. E o 'espetáculo' continua muito bem obrigado. Amém!

* A mesma agência publicitária e oportunista que criou o 'Somos todos macacos', agora criou o ‘Somos todos Neymar’.


Super Star: a cultura da reprodução e a reprodução da cultura...

Alguém me escreveu: 'E então, o que achou da final do Super Star Herman?' Eu: “Olha, até vi alguns fragmentos, uma vez ou outra! Mas, sinceramente, nada de novo ou autêntico no front. Pelo pouco que vi, uma das bandas que me chamou bem a atenção foi a Suricato, já a vencedora, Malta, me lembra bandas do chamado pop rock melódico, como Reação em Cadeia e afins, e bandas gospel melosas, um estilo que não gosto nem um pouco. No alto da emoção, o vocalista larga essa pérola: 'O programa mudou a cultura brasileira!'. Meodeus! Mas já era visto que essa banda tinha caído nas graças do público televisivo-global. Também, esperar o que de um programa que leva o nome de Super Star?” 

Ou seja, a reprodução do que já é sacramentado, do que é status, para a boa saúde ou manutenção da 'indústria cultural', seus agentes e sua ideologia. E a 'cultura' continua a mesma...

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(...) "a elevação da cultura exigiria, segundo Nietzsche, novos objetivos, novas instituições e uma revisão total das noções que até então orientaram a promoção da cultura;" (...) (Escritos sobre Educação - Friedrich Nietzsche)


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



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