sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Leituras do Cotidiano, 05/12


Convulsões

Este foi (está sendo) um ano duro. Enquanto o Brasil e o mundo empobrecem artisticamente e intelectualmente com a morte de grandes mestres das artes e do pensamento, como Rubem Alves, Ariano Suassuna, Manoel de Barros e agora Roberto Bolaños (Chapolin, Chaves e Chesperito), o carismático e instigante Pepe Mujica deixa a presidência do Uruguai, com muitos avanços, principalmente na área social. Mas coisas boas como a aposentadoria de Sarney na política e o anúncio de ‘pausa na carreira musical do cantor Latino’ acontecem também, para ‘equilibrar’ um pouco as baixas. O grande jornalista e literato Xico Sá sai da Folha por motivos políticos e dá belos e contundentes disparos referentes à conjuntura nacional, como: ‘Não é a primeira vez que se prende empreiteiro no Brasil. Mas é a primeira vez que o governo não intervém para soltá-los’. Enquanto parte significativa da posição dá os braços à oposição, junto a grande mídia para minar o governo recém-reeleito de Dilma que, ‘escolhe’ sob ‘livre e espontânea pressão’, alguns ministros na (in)lógica de incoerência com o discurso progressista que hoje, é comum até na mais extrema direita. E assim caminhamos não sei pra onde. E assim caminha a humanidade. Convulsões que nos chegam de todos os lados. E nós pasmamos embasbacados com tudo. Seja pela tela da televisão ou dos modernos celulares, as notícias e informações superficiais deturpam a realidade e nos tornam consumidores diários do espetáculo. ‘Circo para o povo’. E cá estamos nós, no meio desta ‘zorra total’, admirando sem saber por que todo este excesso de superficialidade. E ‘todo mundo’ hoje ‘é’ sociólogo, filósofo, historiador. Pior, ‘todo mundo’ é juiz no mundo convulsivo das redes sociais, mesmo sem ao menos a desculpa de ter estudado estas áreas do conhecimento. Estamos sofrendo de crises convulsivas em várias situações e de várias formas. ‘E agora, quem poderá nos defender?’. Ainda bem que temos mestres vivos e o legado dos mestres mortos como referências e contraponto ao espetáculo convulsivo da indústria cultural e das ideologias que a permeiam - além do Caos... 


Um ‘todo’


Pensamentos são páginas que folhamos ao lermos o livro chamado conhecimento. Nisso, é preciso conhecer para pensar sobre o objeto deste conhecimento. O conhecimento vai para além da informação. Por isso, nem tudo, ou quase nada, do que circula nos meios de comunicação, é conhecimento. Ou seja, na imensa maioria é só informação e, geralmente, descontextualizada, dado o modo de como nosso ‘jornalismo’, escolas e universidades, atuam na sociedade. Modo fragmentado dentro daquilo que ficou convencionado por ‘especialidade’. É preciso profundidade no conhecimento? Penso que sim. Porém, esta profundidade não pode se transformar em segmentação ou fragmentação. Aprofundar ou ‘especializar’ tendo em vista o ‘todo’, ou, sem perder o vínculo com o ‘todo’. E o ‘todo’ é composto de ‘diversidade’. Portanto, ‘especializar’ o ‘ser humano’, como ‘conhecedor’, a partir de boas e vibrantes referências, pois, todo o conhecimento deve vir ampliado pelas várias linguagens desenvolvidas no decorrer da experiência histórica. Ou seja, o ‘bem pensar’, vindo de um conhecimento profundo e amplo, depende de certo trânsito em várias linguagens. Trânsito mental (intelectual), sensível e físico-existencial (corporal), já que o ser humano não vive em pedaços, sendo ele, também um ‘todo’. 


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó. 



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