Convulsões
Este foi (está sendo) um ano duro. Enquanto o Brasil e o mundo
empobrecem artisticamente e intelectualmente com a morte de grandes mestres das
artes e do pensamento, como Rubem Alves, Ariano Suassuna, Manoel de Barros e
agora Roberto Bolaños (Chapolin, Chaves e Chesperito), o carismático e
instigante Pepe Mujica deixa a presidência do Uruguai, com muitos avanços,
principalmente na área social. Mas coisas boas como a aposentadoria de Sarney
na política e o anúncio de ‘pausa na carreira musical do cantor Latino’
acontecem também, para ‘equilibrar’ um pouco as baixas. O grande jornalista e
literato Xico Sá sai da Folha por motivos políticos e dá belos e contundentes
disparos referentes à conjuntura nacional, como: ‘Não é a primeira vez que se
prende empreiteiro no Brasil. Mas é a primeira vez que o governo não intervém
para soltá-los’. Enquanto parte significativa da posição dá os braços à
oposição, junto a grande mídia para minar o governo recém-reeleito de Dilma
que, ‘escolhe’ sob ‘livre e espontânea pressão’, alguns ministros na (in)lógica
de incoerência com o discurso progressista que hoje, é comum até na mais
extrema direita. E assim caminhamos não sei pra onde. E assim caminha a
humanidade. Convulsões que nos chegam de todos os lados. E nós pasmamos embasbacados
com tudo. Seja pela tela da televisão ou dos modernos celulares, as notícias e
informações superficiais deturpam a realidade e nos tornam consumidores diários
do espetáculo. ‘Circo para o povo’. E cá estamos nós, no meio desta ‘zorra
total’, admirando sem saber por que todo este excesso de superficialidade. E ‘todo
mundo’ hoje ‘é’ sociólogo, filósofo, historiador. Pior, ‘todo mundo’ é juiz no
mundo convulsivo das redes sociais, mesmo sem ao menos a desculpa de ter
estudado estas áreas do conhecimento. Estamos sofrendo de crises convulsivas em
várias situações e de várias formas. ‘E agora, quem poderá nos defender?’.
Ainda bem que temos mestres vivos e o legado dos mestres mortos como
referências e contraponto ao espetáculo convulsivo da indústria cultural e das
ideologias que a permeiam - além do Caos...
Um ‘todo’
Pensamentos são páginas que folhamos ao lermos o livro chamado
conhecimento. Nisso, é preciso conhecer para pensar sobre o objeto deste
conhecimento. O conhecimento vai para além da informação. Por isso, nem tudo,
ou quase nada, do que circula nos meios de comunicação, é conhecimento. Ou
seja, na imensa maioria é só informação e, geralmente, descontextualizada, dado
o modo de como nosso ‘jornalismo’, escolas e universidades, atuam na sociedade.
Modo fragmentado dentro daquilo que ficou convencionado por ‘especialidade’. É
preciso profundidade no conhecimento? Penso que sim. Porém, esta profundidade
não pode se transformar em segmentação ou fragmentação. Aprofundar ou
‘especializar’ tendo em vista o ‘todo’, ou, sem perder o vínculo com o ‘todo’.
E o ‘todo’ é composto de ‘diversidade’. Portanto, ‘especializar’ o ‘ser
humano’, como ‘conhecedor’, a partir de boas e vibrantes referências, pois,
todo o conhecimento deve vir ampliado pelas várias linguagens desenvolvidas no
decorrer da experiência histórica. Ou seja, o ‘bem pensar’, vindo de um
conhecimento profundo e amplo, depende de certo trânsito em várias linguagens.
Trânsito mental (intelectual), sensível e físico-existencial (corporal), já que
o ser humano não vive em pedaços, sendo ele, também um ‘todo’.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.
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