sexta-feira, 29 de maio de 2015

Leituras do Cotidiano

Das provocações e conteúdos


Como cronista, já há alguns anos, volta e meia, recebo ‘provocações’ referentes a alguns dos temas abordados em meus textos. E às vezes eu gosto das provocações. Ainda mais quando elas vêm com possibilidades para a ampliação do pensamento. Mas, só às vezes. Quando estou afim e/ou gosto da ‘brincadeira’, acabo aceitando a provocação, então respondo. Quando não, simplesmente ignoro, já que tenho muitas outras coisas para fazer. Isso tudo vai depender do meu estado de espírito ou de meu tempo disponível, já que, incrivelmente, também sou humano – só pra constar! (‘ridículo, limitado, que só usa dez por cento de sua cabeça animal’ – talvez um pouco mais ou um pouco menos – como cantou Raulzito), por mais que alguns achem que não. A provocação traz em si, no seu próprio termo, duas questões que se integram formando-o: o ‘provocar’ e a ‘ação’ (que no caso, seria o ato de responder). O problema é que muitas destas provocações são de caráter pessoal e outras tantas não se sustentam. Geralmente, quando o provocador joga para o lado pessoal, dada resposta, ele some, foge, sucumbe, desaparece, tira o time de campo, ou, no pior dos casos, revida com a velha e dissimulada ignorância, na tentativa de sair imune do jogo. Argumentos nem falar. Quem dirá bom senso – nestes casos. Sensibilidade então?! Já entra no jogo de sola, erra o pulo (e o golpe) e se estrepa, depois faz de conta que não foi nada e continua com suas tentativas em outros campos, potreiros, terrenos ou paragens. E isso, caros leitores, é bem comum. Aprendi, já faz algum tempo, com meu velho e bom amigo bigodudo (Nietzsche) que ‘as palavras tem eco’, assim como as ações. Elas reverberam e muitas vezes, criam força e vão dar em algum lugar. Teoria do Caos. Onde não há controle muito menos resultados intencionados. Portanto, certa prudência, certo respeito ao limite do que se deve, se pode ou se consegue dizer ou fazer, é um bom modo de operar. Questão de bom senso. Sinal de inteligência. O debate, a discussão, o contraponto é importante e saudável quando coerente e tem conteúdo para além do ego e da mera especulação. É bem fácil tropeçar no abismo e cair quando não se está preparado para equilibrar-se acima dele, pois o risco é este quando se caminha sob o abismo. Praticar bem o equilíbrio e estar com uma boa bagagem faz toda a diferença nessas horas. Puxando mais uma vez o bigodudo, ‘só se fala daquilo que se superou’, e a ‘superação’, começa em si ou de si próprio. Saber de onde se fala, como se fala, porque se fala e para quem se fala, também é sinal de inteligência. Sim, eu sei que às vezes sou um pouco arrogante – ou pareço, pelo menos. Reconheço. Mas só um pouco. Até certa dose de ‘arrogância’, às vezes, é necessária para que as coisas criem corpo e circulem de modo a ampliar do reducionismo para as possibilidades. Uma forma de ação e não uma condição humana – neste sentido. Ou seja, às vezes, a arrogância acaba sendo uma estratégia, um modo coerente de se lidar com determinada situação. Esconder-se atrás de uma suposta humildade é que não é digno, pois, de muletas (escapismos e pretextos), a humanidade já está cheia. E os conteúdos existem para serem postos a prova, para serem experimentados, usados, significados e ressignificados. São eles, os conteúdos que alimentam o pensamento e fazem da comunicação uma possibilidade e não um determinismo guiado pela ignorância. 


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.




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