O paraíso
pseudo-requintado da ‘elite’ brasileira II
ou A
indiscreta vulgaridade da burguesia
“A sociedade
espetacular entronizou a imagem” (Juremir Machado da Silva)
Uma imagem vulgar
transformada em ilusão épica pelo espetáculo midiático. Uma qualquer com pose
de requintada desfilando nua em manifestação pela rua. Muitos passam a chama-la
de ‘musa’. Se fosse pobre, chamariam ‘puta’. Outro caso: Socialite chapecoense
vomita sua mágoa acima das cotas e programas sociais do governo federal, além
de destilar um preconceito contra casais homoafetivos na tentativa de
disfarçá-lo. Algo brutal, primitivo, ou melhor, medieval (perdoem-me primatas,
vocês não eram tão estúpidos). Com sangue nos olhos ou ódio no coração, certa
burguesia, certa elite brasileira, ao som do sertanejo universitário em um
camaro amarelo (quer imagem mais tosca, brega ou cafona?), manifestam-se em um
buzinaço, outrora, coisa de pobre. Outros batendo panelas em casa toda vez que
o partido dito ‘dos trabalhadores’ se pronuncia pela televisão, enquanto a
empregada doméstica prepara o jantar que a madame nunca soube fazer – ‘Ai
Herman, que preconceito contra a classe alta que não sabe cozinhar!’ – alguém
sussurra. Um casal na rua (pois agora,
só agora, manifestar na rua também é ‘elegante’), ela siliconada, cabelos
oxigenados, coxas malhadas de academia, pele bronzeada artificialmente ‘a la
latina’, rosto rebocado de plástica e cosméticos, anéis e brincos dourados e
reluzentes, ele, bombado também de academia, tatuagens (outrora era coisa de
marginal) e o cartaz com a frase: ‘Fora governo que sustenta nordestino
vagabundo com a bolsa preguiça!’. Entre outras inúmeras manifestações ‘elegantes’
e ‘charmosas’. Vestidos ‘a la manifestação’ com roupas de grife, um tal ‘kit
manifestante’ que custa em torno de R$ 170,00 (uma camiseta, um boné e um
apito), preço de ‘irmandade’. Tudo em nome de uma democracia que eles dizem
firmemente defender, mesmo gritando por uma tal ‘intervenção militar’. Horror a
Cuba, Venezuela ou qualquer outra nação de cultura não eurocêntrica.
Latinidade, nem falar! Coisa de povo sem instrução, dizem. Mas não abrem mão do
exagero nas vestimentas, luxos, discursos, mediocridades. Pouca leitura, entre
elas, muito autoajuda, revista Veja e outras futilidades. Muita televisão e
algo de cinema. Filmes hollywoodianos de ação ou comédia romântica, em sua
maioria. Música, além do sertanejo dito universitário, algo de MPB e música clássica,
só para manter certa aparência e decorar os nomes dos compositores, além do
funk ostentação que ouvem escondidos. Um mundo caracterizado pelas imagens,
formas, aparências. Onde o chique é brega e o elegante cafona. Um mundo, sob
tudo, pequeno, por mais que aparente ser grande (já que é da aparência que ele
se sustenta). Parecer não significa ser. Um mundo onde o ter em excesso se
iguala ao nada. Um mundo viral que morrendo, também mata. Eis a indiscreta
vulgaridade de uma elite que já foi mais inteligente e teve lá seu charme, mas
que hoje esbanja superficialidade e breguice. Eis a cultura e educação daqueles
que comem caviar, mas arrotam sardinha.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.
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