sexta-feira, 13 de maio de 2011

A Epopeia de um pistoleiro

Histórias do Velho Oeste, parte IV

“Um pouco de água para o cão, por favor!”. Ele me olhou com o canto do olho e lentamente foi se movendo. Ex-pistoleiros sabem do que gente da sua laia é capaz. Serviu o cão sem desgrudar os olhos de mim. “Agora um trago pra mim...”. Não respondeu uma só palavra, mas atendeu meu pedido, só que desta vez um pouco mais rápido. Buscou na prateleira uma garrafa de cachaça, a mais envelhecida do bar. Serviu lentamente num martelinho. O cheiro forte e adocicado do alambique aguçou ainda mais meu olfato e meu desejo pelo álcool. Despejei uma pequena quantia no chão, aos meus pés. “Essa é pro Santo!” O soalho por alguns segundos ferveu. A cachaça era mesmo da boa. O cão trocou a água pela cachaça e lambeu o chão. Seu nome era Santo. O bodegueiro continuava me fitando enquanto secava a testa com um pano imundo. Dois homens sentados na mesa no fundo do bar também me olhavam um pouco receosos, até eu virar a cabeça pro lado. Rapidamente baixaram seus semblantes. Uma mulher de olhos chorosos, ancas largas e peitos inflados, suor no pescoço e cabelos oleosos, fixava seu olhar no meu cachorro, o Santo. De repente, num pulo, alguém saltou do banheiro. Saquei o berro e com toda minha agilidade apontei em direção a porta. No susto, quase atirei. Era uma mulher. Um pouco mais nova e ajeitada do que aquela que fixava seu olhar no Santo. Uma bela e estridente puta. Cabelos castanhos escuros, olhos negros, batom encarnado na boca. Estatura mediana e muito magra. Vestia um espartilho bordô e uma saia preta de couro, curta e justa. Segurava na mão um copo de uísque já vazio. Seu olhar bateu direto no meu e meu coração disparou no ato. O dela, garanto que também, só que devido ao susto de ter um quarenta e cinco apontado diretamente para sua cabeça. Devido a minha atitude, sorriu discretamente com os braços levantados. Devolvi o revólver para a cintura: “Baixe os braços baby, e da próxima vez, tenha mais cautela ao sair do banheiro!” Voltei-me ao balcão. “Mais um trago, por favor!” Mais uma dose e ela seria minha naquela noite. Bebi num gole só. Ao terminar, ela já estava ao meu lado. Senti o frio do metal encostando no meu pescoço pelas costas, e uma doce voz que anunciava: “Passa a grana meu amor!”. Saiu porta afora com o meu cão. Levou embora meu dinheiro, minha arma e meu coração.

e a saga continua...


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