sexta-feira, 20 de maio de 2011

“Nós”

‘Eu sou preto. Também posso ser negro, afro-descendente ou mulato se você quiser - ou como você quer que seja. Não é sempre você quem decide isso? Então? Eu sou preto por que essa é a cor da minha pele. Ponto. Nem azul ou bronzeado. Preto mesmo!’ - ‘Eu sou gay. Também posso ser bicha, viado, puto ou homossexual se você quiser - ou como você quer que seja. Não é sempre você quem decide isso? Então? Eu sou gay por que essa é a minha natureza, minha opção, meu desejo, minha necessidade. Minha,  só minha vida!’ Mas o que é a sexualidade? Você não sabe, não é? E você, o que você é? Um euro-descendente heterossexual? Um branco macho? É tão fácil assim te classificar? Ou você é um ser humano tão frágil e medroso como qualquer outro? A que raça, etnia, cor, credo, tendência, partido, espécie na ordem das evoluções darwinistas, e o escambau, você pertence? Deve ter lá seu orgulho, grupelho, ordem, gang, tribo, seita, facção, rótulo, etc. Seja o que for, eu posso acabar com isso com apenas um golpe desferido com precisão. Te boto pra dormir com a cara na lona. E aí, quem é o melhor agora? E se o mundo acabar amanhã, a cor da minha pele, minha sexualidade, minhas opções e minhas virtudes, minha moral e minhas posições - ou as suas - vão nos livrar da morte? A carne não vai servir de alimento pros vermes por acaso? Bactérias, fungos e vermes são mais fortes do que nós dois, humanos limitados e por muitas vezes ridículos. Eu sou pobre. Ganho pouco e dependo do meu suor e de ‘oportunidades’ para viver neste país onde alguns ganham muito e outros quase nada. Depois de terem sugado todo meu sangue me oferecem cotas para que eu possa estudar e ter um espaço (ainda restrito) nessa sociedade. Mas você é contra as cotas, não é? Eu descendo daqueles que criaram, na marra, a primeira economia deste país hoje ‘rico’, e graças a isso, vocês estão aí hoje, desfrutando de inúmeras facilidades. Meus antepassados vieram amarrados por correntes de aço em navios imundos, cheios de ratos e doenças. Comeram o pão que o diabo amassou. Violentados e torturados, fizeram a riqueza de que hoje você desfruta. E agora, como reparar essa injustiça histórica? Com cotas? É muito pouco ainda. Talvez o mínimo. Talvez! E eu é que sou o mal. Eu é que sou o erro. Eu, sempre eu... o outro, o diferente!

Um comentário:

Anônimo disse...

Nooooossa! Que palmada!