quarta-feira, 25 de maio de 2011

Arautos da mediocridade... eles prosseguem cavando!

“Deve-se falar somente quando não se pode calar; e falar somente daquilo que se superou.” (F. Nietzsche).

Resolvi sair do meu QG (que é minha casa), e voltar a frequentar locais e eventos sócio-culturais ligados a arte e ao mundo universitário, aos poucos. Cansei um pouco dos meus estudos e pesquisas ‘caseiras’, sejam elas musicais e cinematográficas, teóricas ou filosóficas. Mas isso não significa, de forma alguma, que eu vá abandoná-las (pelo menos, agora não). Isso tudo é parte essencial da minha vida (e não é de hoje que eu faço isso, me construí assim). Nessas minhas divagações pelo mundo das idéias e possibilidades, volta e meia me deparo com situações deploráveis. Desde meros blogueiros aspirantes a filósofos que agem como se fossem grandes pensadores num mundo virtual (literalmente), guiados pelos seus vícios egos-maníacos, até doutores academicistas que tentam ridicularizar o impacto que Nietzsche causa ao pensamento ocidental-cristão de forma velada em suas conferências. Isso e muito mais, está reduzido ao cotidiano, ao dia a dia, a História presente. Falo daqueles que se vestem em personagens medíocres para amenizar a merda das suas vidas e, por não terem o que defender nem atacar, lançam suas iras psicastênicas no espaço com suas armas de curto alcance. Ingenuidade? Idiotice? Um pouco das duas, eu diria, somado a falta de experiências concretas, reais, cotidianas. Esses pseudo-filósofos e suas filosofias da conformidade, do vazio. Acompanham a efemeridade social com suas práticas e pensamentos. Criticam mesquinhamente alguns espaços, mas sempre que podem estão desfilando neles. Por vezes se utilizam de uma linguagem literária e/ou burocrática (e não filosófica), para legitimar seus discursos reprodutores e demarcados. Falta de fundamentação e ‘experiência de chão’. Falta de inteligência! Generalizam todos os meios num discurso simplista. Lançam suas iras em cronistas e jornalistas como se fosse uma raça, decerto por não conhecerem Rubem Braga, Mirisola, Xico Sá, Hunter Thompson e seu gonzo jornalismo, e muitos outros dessa laia que estão além dos conceitos estereotipados e estacionados que eles, no fim, acreditam, pois reproduzem (mas devagarzinho, de tanto tropeçar, estão aprendendo, já conseguindo até utilizar a palavra ‘alguns’ quando escrevem para tentar escapar do determinismo que os compõe). Acreditam piamente que são bons, quando não passam de meros instrumentos de toda a ordem. Não consideram o Caos. Lêem Nietzsche e Cioran com uma compreensão factícia (se é que lêem!). Mas isso também não é surpresa numa realidade em que 5% do país lê e destes, apenas 3% compreendem o que estão lendo. Na semana do Festival de Teatro de Chapecó, vi pessoas curtindo os espetáculos e desfilando pelo Centro de Cultura e E-ventos que, certa feita, alvejaram o SESC, dizendo que a instituição ‘só traz lixo cultural pra cidade’. Não sabem os tolos que parte dos espetáculos (os grandes), vieram por intermédio do SESC (ou é um caso de incoerência entre o dizer e o fazer). Não estou aqui glorificando o SESC como sendo o paraíso da arte e cultura, mas dentro da nossa realidade, é o meio que mais propicia isso. Pessoas que também criticaram o ‘Entrevero de Rock’ (projeto escrito por mim e pela Liza, depois afinado pela Michele e pelo Jakson Kreuz), de forma mesquinha e imbecil, dizendo que a banda Epopeia fez o projeto pra si própria, já tocaram várias vezes pelo projeto, e em locais que jamais tocariam se fossem pelo seu ‘talento’, enquanto a Epopeia (que fez o projeto pra si própria – que piada!), tocou apenas uma vez, ainda na inauguração do projeto. Isso transparece uma coisa que eu até então nem acreditava que exista, a inveja. Que merda é essa?! Sintoma de consciências pseudo-burguesas? Reprodução de valores individualistas numa sociedade quantitativa promotora de disputas? Percebo que esses seres ilativos sejam frustrados por não conseguirem aquilo que almejam: algum sucesso ou certa fama, notoriedade, razão, autoridade ou até simplesmente reconhecimento. Talvez, faltou alguém avisá-los que reconhecimento se conquista e não se impõe. Acima de outros fazem suas vozes sem reverberação aparecerem. Pobres criaturas! Mundo pessoal, cada um tem o seu. Portanto, o sentido de escrever, publicar, dizer, mostrar, é pra que outros leiam ou vejam (e isso tudo também é imagem). Esse discursozinho privativo, essa falácia de que ‘escrevo pra mim’ ou ‘não participo disso ou daquilo’, é apenas uma tentativa de se livrar da culpa da covardia. Ninguém está além desta bosta toda que é a sociedade do espetáculo sim senhor! (pelo menos os que publicam, tocam músicas por aí, aparecem em eventos, etc. E quando falo em sociedade, é algo que está além do discurso – ou da moda – sociedade enquanto estrutura de valores, morais, conceitos, além da questão institucional). A diferença é que alguns resistem com a consciência alimentada, em dia, assumindo suas vontades e seus modos de se compor e ser dentro dela, outros, tentam justificar as suas covardias e fraquezas, tendo ‘o outro’ sempre como ‘o problema’. Nem se tocam que são instrumentos da moral social vigente. Esses tolos decerto acreditam na mentira do livre arbítrio. O pior é que usam a roupagem dos malditos pra isso, dos rebeldes, dos artistas do Caos que andam pelas ruas lançando aromas de transformação no vento. Pessoas que vivem a se justificar no “eu”, são os maiores instrumentos de manutenção que um poder territorial pode ter em suas mãos. Soberbos filósofos da conformidade... medíocres filósofos do vazio... criam dentro dos seus mundos virtuais sua vã filosofia míope para tentarem amenizar suas faltas, suas dores, ao invés de assumirem-se dentro dos seus limites humanos e existenciais, e assim, perceberem o quanto ainda precisam caminhar para chegar a algum lugar mais elevado que os possibilite uma visão de maior alcance, pois... “Só é possível chegar ao topo da montanha a partir do chão”.


Um comentário:

Ana Paula disse...

Falou e disse! Conheço bem isso. Estou sempre de olho nos teus textos, aqui e no jornal. Parabéns!