sexta-feira, 20 de maio de 2011

Qualquer relação com a semelhança, é mera realidade...

Histórias do Velho Oeste II: Os incendiários!

Escapei do linchamento naquela noite de primavera. Os companheiros do meu bando não tiveram a mesma sorte. Era outubro de 1950 e eu me lembro como se fosse hoje. Depois de apanharem muito da população irada, com suas carnes já dilaceradas, foram incendiados. Tonho ainda estava vivo pelo que me contaram depois. Deve ter sofrido muito o coitado. Fomos acusados de incendiários e éramos forasteiros. Nego as acusações até hoje. Se bem que não sou tão confiável assim! Que culpa tínhamos nós pelas garotas nos darem bola? Se arreganhavam todas quando nos viam passar em cima de nossos cavalos. Éramos elegantes e tínhamos risos de vanguarda. Bons tempos aqueles em que perseguíamos um ideal! Por mais que eu fosse perigoso, nunca ateei fogo em igreja nenhuma. Sou devoto e jamais faria isso! O desgraçado do delegado em comunhão com o padre, prefeito e outras autoridades, fizeram corpo mole, deixando a populança nos agarrar. Queriam nos ver mortos, e conseguiram. Mas eu sobrevivi. Talvez os imbecis não esperassem por isso. ‘Famílias nobres... ah! Que piada!’. Que nobreza há em atos como este? Eu andava bem trajado e era gentil com aqueles que fazia contato, principalmente com as donzelas e raparigas. Andava armado, como os demais, costume da época, mas nunca precisei puxar o gatilho, graças a Deus! Sou o quinto elemento de um bando de amigos e companheiros de aventura, forasteiros no Velho Oeste. O único sobrevivente. Minhas cicatrizes são incuráveis e carrego seqüelas que jamais serão reparadas. O tempo passou e eu envelheci junto com minhas dores que são eternas. Xapecó é uma cidade de tradição incendiária. Hospitais, clubes e até igrejas foram ‘vítimas’ del fuego ao longo dos anos por aqui. A maldita disputa por poder local fez vítimas e deixou um rastro de sujeira na história do Oeste. Não é por nada que aqui é o ‘Velho Oeste’. Muitos dos covardes desapareceram enquanto eu prevaleço – ainda estou aqui, incrustado nas pequenas decadências dessa cidade. Como uma maldição, volta e meia sou lembrado – o tormento da moral local. Sou parte nobre de uma história hedionda – o ‘pé no saco’ dos heróis que aqui foram forjados. Minha vingança foi tornar eterna a matança dos meus comparsas. Estou vivo e me chamo Memória.


Um comentário:

Anônimo disse...

Essa história é quase tão real!