Começa mais uma vez - ou uma vez mais, a feira. E por alguns
momentos esqueceremos-nos das mazelas sociais e políticas da nossa cidade.
Quantos homicídios mal suicidados, esfaqueamentos a luz do dia, câmeras que
monitoram pessoas (e não necessariamente criminosos) desligadas, incompetência
legislativa e investigativa, cassações – um é o dia da caça, outro, do caçador
– ainda teremos para que a consciência grite mais alto do que o medo ou a
comodidade? Mas isso agora não importa, pois temos a feira, e nela, grandes
negócios, não pro nosso bico, mas parece que isso já nos basta. Temos também
grandes nomes da... da... música? Ah, deixa pra lá! Grandes nomes da televisão
e das obesas rádios jabazentas. Ah, agora sim! Temos atrações locais também,
que não constam nos panfletos publicitários, mas estão vivas (ainda!), dando um
‘Q’ de arte e alternativa ou opção ao caráter comercial evento. Para além da
propaganda publicitária e ideológica (e dos negócios), estão os artistas e suas
artes, furando o bloqueio, jogando no time da esperança (outros, da
mendicância), e o jogo continua. Não começou ontem e nem vai terminar amanhã, é
um jogo que se faz com regras definidas, veladas, numa relação piramidal de
poder, mas que possui brechas, furos que podem se tornar arrombos. Furos que só
no futuro serão percebidos. E que venha o dito cujo – que já é amanhã! Enfim...
Boa feira pra nós!
* também publicado no jornal Folha do Bairro, 04/10
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