Polícia dá porrada de um lado. Manifestante discursa
fragilmente de outro. Sininho esculacha o governo, mas acredita que com seu
partido ou seu discurso reducionista vai fazer a revolução social. A revista
Veja vê, noticia, distorce, pinta e borda, e vende tudo. A Globo aumenta pontos
na sua audiência, outrora melhor. Eu continuo aqui, percebendo, produzindo
crônicas e ideias e canções e poemas, ‘não sendo contraditório, mas
contraditor’, como diria o grande filósofo. Sofremos gravemente de uma falta ou
de um excesso de educação, pois de uma forma ou de outra, nossos atos e ideias
e discursos, são reflexos de uma educação, de uma cultura. Somos animais
culturais que absorvem, reproduzem e assim se encontram ou se perdem.
Financiados, induzidos, orientados ou não, temos voz, a palavra e o corpo. O
corpo por vezes indesejável ou indesejado – e muitas vezes, indefeso. A palavra
também tem corpo – mas se defende - e seu corpo treme, febril, inquieto, cheio
de dores e alguns calafrios. O corpo da palavra tem forma, tem imagem. A
palavra do corpo e o corpo da palavra. Eu, você e todos os outros, temos corpo,
mas nem sempre a palavra. Minha palavra magrinha, porém de ossos duros. Existem
palavras, como as minhas, que não tem cura. Existem corpos incuráveis e vozes
que, às vezes, silenciam. Entre bem e mal, o silêncio ruidoso dos corpos que
caem e das palavras que se elevam...
* também publicado no jornal Folha do Bairro, 21/02.
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