"A insônia é uma lucidez vertiginosa que poderia converter o paraíso num centro de tortura. Qualquer coisa é preferível à vigília permanente, essa ausência criminosa do esquecimento."
(Emil Cioran)
Eu também erro. Meus tiros, nem sempre são certeiros. Eu também como,
bebo e respiro. Às vezes me embriago. Eu também sofro. Mas rio, canto, e às
vezes tento fazer chover. Ontem mesmo tive sonhos e tive pesadelos. Ambos
alimentam minha imaginação, possibilitando novas ideias que provavelmente darão
em novos textos, ou desaparecerão como que se nunca tivessem existido. Hoje a
insônia bate a minha porta pedindo para entrar. Não abro. Mas não há jeito, ela
entra pelas frestas dessa casa velha. Tento negociar, mas ela não retrocede,
não abre mão da sua missão que é a de me manter acordado. Tive um dia cheio,
como tantos outros, e a noite também será cheia e longa e cansativa. A insônia
tortura, atormenta e faz a noite amanhecer sem dormir. O pior da insônia é a
permanência da razão, meio febril e dissonante, de fato, mas acesa. Uma lucidez
atordoante e meio torpe que insiste nos pensamentos e nas lembranças da vida
diurna. A noite se faz lá fora enquanto a insônia acontece aqui dentro. Insone,
passarei a noite e depois o dia, até que a noite chegue de novo, e assim,
talvez, o sono a substitua e volte ao seu plantão. Eu acompanho o mundo que
acontece insone enquanto a humanidade dorme, entorpecida em sonhos que nunca
serão lembrados...
* também publicado no jornal Folha do Bairro, 28/02
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