Efeito 'reprodução' e o entorpecimento da visão...
Referente ao caso do menor assaltante que foi
amarrado num poste e espancado por um grupo intitulado ‘Justiceiros’, e que
virou uma espécie de viral, se reproduzindo em outros lugares do país.
Há quem ache que tudo se resolve a bala ou na porrada,
que tudo é pessoal ou natural, inclusive
a riqueza, a pobreza, o trabalho, o crime. Se assim for, está tudo certo e não
há do que reclamar. Guerra é guerra. Mas será que é isso mesmo? Pessoas de boa índole jamais torturarão alguém.
A tortura vem como uma espécie de fetiche odioso. Um Desejo demente de 'vingança',
muitas vezes motivada por uma ‘ideologia da morte’. Uma espécie de compensação das próprias
frustrações. Ludibriação de si mesmo. Frustração por ter que ser submisso a um
sistema como este, que brocha a maioria das necessidades humanas. Se o ato de
punição individualizado ou pessoalizado se justifica, para que existem leis? Justiça
institucionalizada? A hipocrisia de prometer, ofertar, discursar um mundo que
não existe, a qualquer custo. E os meios de comunicação de massa são peritos
nisso. Inclusive, a do individualismo do ter sem ser. Dada a motivação, a
promessa, a propaganda, depois vem a punição por essa busca, esse anseio, esse
desejo transformado em necessidade. Naturalizar algo que é de cunho
'socioeconômico' e 'sociocultural', é no mínimo falta de compreensão, para ser
leve. E o moralismo permeia essa situação. Criminosos maiores querendo 'punir'
um criminoso menor (e não estou falando em idade). Classe média/alta de valor e
cultura eurocentrista judaico-cristã 'justiçando' a ‘realidade’ com violência
acima da classe baixa afrodescendente. ‘Grande justiça!’. E o discurso
maniqueísta da 'igualdade de oportunidades' é feito ‘verdade’. Sei! Conheço esse discurso, essa ‘boa
vontade’ do sistema bem de perto. Existem
coisinhas básicas que se estudam nas áreas humanas e sociais, em que,
estudando, se descobre que as pessoas geralmente constituem sua visão a partir do
lugar onde foram criadas ou estão. No caso, um favelado que foge de uma
realidade medonha e violenta para entrar noutra e sobreviver abaixo das
promessas de um sistema melhor, enquanto, do outro lado, outros, moradores de
bairros bem estruturados, bom teto e dinheiro no bolso, inseridos numa
realidade consumista e de autoconsumismo que consome a si própria. Esses últimos
deveriam ser mais racionais devido a suas condições mais suaves do que as dos
primeiros, mas parece que acontece o oposto. Justificando o ‘justiçamento’ (no que dou outros
nomes como: covardia, fetiche e violência), alguns ainda dirão: ‘Foi deus quem
quis'. Outros dirão que 'é natural'. Os mais oportunistas dirão: ‘Justiça!’.
Contudo, eu digo que: ‘o meio, muitas vezes, entorpece a visão’. E se assim for,
vivemos uma realidade viral e de pouca visão...
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 28/02...
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