Uma semana violenta, como tantas. As manifestações pelas ruas do
Brasil continuam. As ideologias também – principalmente na disputa pela
palavra. Vejam só como ela é importante. ‘Quem?’. A palavra. A palavra é tudo.
Ou quase tudo. Não, não, acho que exagerei. A palavra é muito! ‘Fica assim que
tá bom Herman!’. Outrora, as manifestações já foram mais queridas pela esquerda
institucional. Hoje, nem tanto. Foi assim também com a Copa. Só que ao
contrário (se é que me entendem!). Nesta festa, neste espetáculo, tiros saem
para tudo quanto é lado. Menor infrator, morador de rua, ‘pobre diabo’,
torturado e amarrado por playboys autoproclamados de ‘os justiceiros’ da nova e
dita ‘classe média ascendente’, filhos dos mais recentes e progressistas
governos que já tivemos na nossa história. Que ironia, não? É amigos, é o
avanço econômico que passou por cima de outros avanços que ainda não se
concretizaram. Capitalismo cruel. Há quem chame de capitalismo de esquerda,
progressista. Mas isso existe? Não sei. Se existir, me parece contraditório.
‘Mas o sistema é contraditório Herman!’. Economia sobe, e com ela, deveria
também subir nosso bom senso, assim como nosso senso de humor, nosso senso
artístico, nossa cultura, nossa educação. Mas esses ainda são tratados e feitos
‘segundo plano’. ‘De novo Herman? Até quando?’. Eis também o meu anseio. Agora,
cinegrafista morto também tem culpado pessoal. E o discurso se reproduz como
vírus. ‘Foram os Black Blocs’. ‘De novo?’. É melhor que se acredite nisso. ‘Pra
quem?’. Pro sistema. ‘Mas quem é o sistema Herman?’. Olha, já nem sei mais
direito. Enquanto isso, a grande mídia usa dessas artimanhas, de jogo de
acusações e culpabilidades para minar e desestabilizar o governo. ‘Mas se o
governo for mesmo desestabilizado, de quem será a culpa? Da meia dúzia de Black
Blocs, macarados e/ou anarcos que ocupam as ruas?’ Ou da vulnerabilidade do próprio
governo e suas instituições oficiais frente a nossa realidade cultural?’.
Conste que, a violência também é cultural - e também faz parte do espetáculo. A
violência sustenta parte dessa estrutura: o sistema judiciário (e arcaico), o
sistema policial (e arcaico), o sistema privado de segurança (não arcaico).
Além, é claro, do jornalismo dito policial (que impera nos horários nobres de
televisão), dando, literalmente, show de audiência: ‘Tcham-tcham-tcham-tcham!
Bem vindos ao espetáculo!’. Neste jogo de cartas marcadas amigos, só os
coringas é que podem virar o jogo (ou a mesa). O mais, geralmente acaba
jogando, limitados as regras. Jogo sujo, muitas vezes. A Copa e o futebol que
no ano de 1970 foram instrumentos ideológicos do regime militar na alienação da
população, hoje é defendida e é atacada, pelos dois fios da mesma navalha. E
ela corta. E o seu corte é profundo. Causa danos ou pode até matar. Frente a
isso, não seria mais do que hora, de reivindicarmos firmemente uma reforma
midiática? Ou mais que isso, uma mudança de valores e formas de se fazer mídia?
A mídia também educa (e como!). Mídia, também é cultura. A saber, amigos: ‘Não
sou contra a Copa!’. Mas também, não sou a favor. E qual é o problema nisso?
Sei que muitos podem pensar e apontar de dedo: ‘É você Herman!’. Claro, neste
jogo, sempre deve haver um culpado, alguém que carregue o fado cultural que o
fracasso de um sistema antigo, velho, ultrapassado não consegue dar conta.
Enfim. Encerro com um pensamento de um dos líderes de Estado mais cativantes do
momento, que diz e sintetiza muito do que penso e compartilho em algumas das
minhas crônicas (a exemplo dessa):
“Uma das desgraças da política é
ter abandonado o campo da filosofia e ter se transformado em um receituário
econômico”. (Pepe
Mujica, presidente do Uruguai)
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, em Leituras do Cotidiano...
&
Violência e morte nas ruas...
Fatos violentos noticiados em massa pelos meios de comunicação
(sob tudo pela televisão) marcaram a semana. Refiro-me ao ato violento de
tortura feito por homens da dita ‘classe média ascendente’, reunidos num grupo
denominado ‘Os justiceiros’, a um menor infrator no Rio de Janeiro, que depois
de pego, foi covardemente torturado ou espancado e amarrado num poste. O outro
fato foi a morte do cinegrafista da Band por um rojão nas manifestações contra
o aumento da passagem de transporte público. Ambos, casos de violência nas
ruas. Independente dos motivos, a violência não pode ser vista como algo meramente
pessoal nem circunstancial. Ela tem história. No caso, se insere num contexto
maior, ou seja, faz parte da nossa cultura e do ‘espetáculo’ midiático nosso de
cada dia. Alimento de um sistema, onde prós e contras discursam
ideologicamente, conscientemente ou não, participando desse ‘espetáculo’, dessa
cultura. Tratemos de mudá-la. Como? Não sei bem, mas é preciso ressignificar
ela, iniciando pela família e seus hábitos, pela escola e suas políticas, pela
sociedade e seus valores. Os avanços na área econômica foram muitos nesses
últimos anos, porém, insisto em dizer que, se não tratarmos a cultura como algo
prioritário, estaremos fadados a mais violência. Não estou querendo aqui ser
pessimista ou premonitor de um futuro que nem sequer existe, apenas penso que as
coisas confluem e integram, e que, além da ordem, existe o caos. Atentemos para
ele...
* também publicado no jornal Folha do Bairro...
14/02/2014
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