sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Qual violência é pior?





















Uma semana violenta, como tantas. As manifestações pelas ruas do Brasil continuam. As ideologias também – principalmente na disputa pela palavra. Vejam só como ela é importante. ‘Quem?’. A palavra. A palavra é tudo. Ou quase tudo. Não, não, acho que exagerei. A palavra é muito! ‘Fica assim que tá bom Herman!’. Outrora, as manifestações já foram mais queridas pela esquerda institucional. Hoje, nem tanto. Foi assim também com a Copa. Só que ao contrário (se é que me entendem!). Nesta festa, neste espetáculo, tiros saem para tudo quanto é lado. Menor infrator, morador de rua, ‘pobre diabo’, torturado e amarrado por playboys autoproclamados de ‘os justiceiros’ da nova e dita ‘classe média ascendente’, filhos dos mais recentes e progressistas governos que já tivemos na nossa história. Que ironia, não? É amigos, é o avanço econômico que passou por cima de outros avanços que ainda não se concretizaram. Capitalismo cruel. Há quem chame de capitalismo de esquerda, progressista. Mas isso existe? Não sei. Se existir, me parece contraditório. ‘Mas o sistema é contraditório Herman!’. Economia sobe, e com ela, deveria também subir nosso bom senso, assim como nosso senso de humor, nosso senso artístico, nossa cultura, nossa educação. Mas esses ainda são tratados e feitos ‘segundo plano’. ‘De novo Herman? Até quando?’. Eis também o meu anseio. Agora, cinegrafista morto também tem culpado pessoal. E o discurso se reproduz como vírus. ‘Foram os Black Blocs’. ‘De novo?’. É melhor que se acredite nisso. ‘Pra quem?’. Pro sistema. ‘Mas quem é o sistema Herman?’. Olha, já nem sei mais direito. Enquanto isso, a grande mídia usa dessas artimanhas, de jogo de acusações e culpabilidades para minar e desestabilizar o governo. ‘Mas se o governo for mesmo desestabilizado, de quem será a culpa? Da meia dúzia de Black Blocs, macarados e/ou anarcos que ocupam as ruas?’ Ou da vulnerabilidade do próprio governo e suas instituições oficiais frente a nossa realidade cultural?’. Conste que, a violência também é cultural - e também faz parte do espetáculo. A violência sustenta parte dessa estrutura: o sistema judiciário (e arcaico), o sistema policial (e arcaico), o sistema privado de segurança (não arcaico). Além, é claro, do jornalismo dito policial (que impera nos horários nobres de televisão), dando, literalmente, show de audiência: ‘Tcham-tcham-tcham-tcham! Bem vindos ao espetáculo!’. Neste jogo de cartas marcadas amigos, só os coringas é que podem virar o jogo (ou a mesa). O mais, geralmente acaba jogando, limitados as regras. Jogo sujo, muitas vezes. A Copa e o futebol que no ano de 1970 foram instrumentos ideológicos do regime militar na alienação da população, hoje é defendida e é atacada, pelos dois fios da mesma navalha. E ela corta. E o seu corte é profundo. Causa danos ou pode até matar. Frente a isso, não seria mais do que hora, de reivindicarmos firmemente uma reforma midiática? Ou mais que isso, uma mudança de valores e formas de se fazer mídia? A mídia também educa (e como!). Mídia, também é cultura. A saber, amigos: ‘Não sou contra a Copa!’. Mas também, não sou a favor. E qual é o problema nisso? Sei que muitos podem pensar e apontar de dedo: ‘É você Herman!’. Claro, neste jogo, sempre deve haver um culpado, alguém que carregue o fado cultural que o fracasso de um sistema antigo, velho, ultrapassado não consegue dar conta. Enfim. Encerro com um pensamento de um dos líderes de Estado mais cativantes do momento, que diz e sintetiza muito do que penso e compartilho em algumas das minhas crônicas (a exemplo dessa):

“Uma das desgraças da política é ter abandonado o campo da filosofia e ter se transformado em um receituário econômico”. (Pepe Mujica, presidente do Uruguai) 


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, em Leituras do Cotidiano...


&

Violência e morte nas ruas...


Fatos violentos noticiados em massa pelos meios de comunicação (sob tudo pela televisão) marcaram a semana. Refiro-me ao ato violento de tortura feito por homens da dita ‘classe média ascendente’, reunidos num grupo denominado ‘Os justiceiros’, a um menor infrator no Rio de Janeiro, que depois de pego, foi covardemente torturado ou espancado e amarrado num poste. O outro fato foi a morte do cinegrafista da Band por um rojão nas manifestações contra o aumento da passagem de transporte público. Ambos, casos de violência nas ruas. Independente dos motivos, a violência não pode ser vista como algo meramente pessoal nem circunstancial. Ela tem história. No caso, se insere num contexto maior, ou seja, faz parte da nossa cultura e do ‘espetáculo’ midiático nosso de cada dia. Alimento de um sistema, onde prós e contras discursam ideologicamente, conscientemente ou não, participando desse ‘espetáculo’, dessa cultura. Tratemos de mudá-la. Como? Não sei bem, mas é preciso ressignificar ela, iniciando pela família e seus hábitos, pela escola e suas políticas, pela sociedade e seus valores. Os avanços na área econômica foram muitos nesses últimos anos, porém, insisto em dizer que, se não tratarmos a cultura como algo prioritário, estaremos fadados a mais violência. Não estou querendo aqui ser pessimista ou premonitor de um futuro que nem sequer existe, apenas penso que as coisas confluem e integram, e que, além da ordem, existe o caos. Atentemos para ele...


* também publicado no jornal Folha do Bairro... 

14/02/2014


Nenhum comentário: