Não
é possível fabricar uma voz. A voz de que falo é a dada por certo
desenvolvimento de linguagem. Ou seja, só é possível ‘voz própria’ a partir do
desenvolvimento dela. Todos nascem com suas vozes, porém, não muitos conseguem
torná-las vistas, ouvidas, pensadas, percebidas. Existem vozes que não são
próprias, mas são repetições, reproduções de outras vozes já existentes, e isso
é o mais comum de se ver por aí, mesmo, nem todos percebendo isso. No caso da
música ou da arte em geral, a ‘voz própria’ não é algo que possa ser
‘fabricado’ por algum produtor, como geralmente acontece com o ‘produto’. Aqui,
diferenciamos ‘voz’ de ‘produto’. Muitos ‘artistas’, entre músicos e
compositores, artistas plásticos, escritores, etc., não adquirem sua própria
voz, e morrem sem nuca ter desenvolvido ela. Uma voz que já nasce com a gente,
mas que precisa de desenvolvimento para acontecer. A voz, neste caso, é algo
que ‘pode acontecer’, pois esta existe, mas nem sempre acontece. Nisso contamos
com, além da percepção, da prática, da busca, da pesquisa, do estudo, seja ele
conceitual, filosófico e estético, e da sensibilidade. Ambos somam-se na
constituição daquela ‘voz’ que é ‘própria’. Uma dura lida, porém, possível.
Você que compõem ou produz, já desenvolveu ou encontrou a ‘voz’ que lhe é sua
‘própria’?
* também publicado no jornal Folha do Bairro, 15/08...
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