O Demônio do Poder - e o ‘Não Poder’
"Não é a necessidade, não é o desejo - não, é
o amor ao poder que é o demônio dos homens." (Nietzsche)
Poder, que demônio é este?! Filho da ambição, da
ganância, do domínio e das negociações, o poder corrompe e territorializa. Quando
concentrado torna-se autoritarismo e imposição, mas quando dividido em partes
semelhantes, torna-se ‘não poder’ - uma forma de relações dialógicas, pois, sem
o diálogo não existem as partes, ou no caso, a ‘diversidade’. O poder castra a
diversidade quando se concentra. Muitos podem discordar dessa minha consideração
em torno do poder, mas cito meu ofício como um exemplo de ‘não poder’: Entre
outras coisas, sou professor em escolas e outros espaços de aprendizado e
instrutor de um sistema de Kung Fu com ênfase em filosofia e defesa pessoal,
além de escrever textos em meios de comunicação virtuais e impressos. Nisso,
tenho alunos e leitores, com os quais estabeleço minhas ‘relações de poder’ (ou
‘não poder’), ou seja, disponho de certo ‘poder’, porém, por ter essas
‘habilidades’ não significa que eu faça da minha condição um instrumento de
domínio, ou seja, não domino nem sou ‘o poder’, apenas me relaciono com ele ou
com o ‘poder-não poder’ do outro. Não é uma relação piramidal, vertical ou
autoritária, mas uma relação horizontal, pois, além de elevar o conhecimento
nessa relação com o outro - e não na imposição, libero minha palavra, seja ela
falada ou escrita, ao critério de análise do outro. É onde o ‘poder’ se
dissolve em uma relação de ‘não poder’, pois não há uma ‘verdade’ única e
absoluta em torno do que é dito, falado ou escrito. Por isso é que resolvi
pensar assim e escrever isso. Meu poder pode ser grande, pequeno ou quase
impossível, pois ele vai depender daquilo que o outro considere ou não. Teria
eu a possibilidade de dominar através do poder? Pode ser, se eu tivesse o amor
ao poder em mim. Mas tenho outras coisas mais interessantes e vivazes para
amar. Meu poder é dividido com o outro e vice-versa, a partir do momento em que
produzo algo e que socializo este algo com os que dividem seu tempo e seu
espaço comigo. Juntos, formamos outro poder, não individual, mas coletivo, que
não tem dono e que não se concentra em um só, pois, estando dividido num
coletivo (relação ‘eu’ e ‘outro’), torna-se um ‘não poder’, ou seja, uma
possibilidade, um movimento, amplo e diverso, e não um território privado do
‘eu’.
Poder e ostentação...
Enquanto bombas lançadas pelo Estado de Israel matam crianças na Faixa
de Gaza, o empresário e político Edir Macedo posa de 'profeta' e levanta um templo de cunho 'judaico-cristão'
no Brasil. Luxúria, ostentação, 'espetáculo' (leia-se Debord), muitos votos e
poder, dão a tônica do maior templo religioso do Brasil - além da 'acolhida' do
rebanho.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.
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