‘Tenha tempo para uma conversa’, ela gritou. ‘Não me venha com
suas manias’, eu respondi. E assim o dia terminou num bate boca sem sentido. Dia
todo na escola falando de filosofia e outros temas que enchem o mundo de ideias
e algumas vivências e ainda ter que... ‘O mundo lá fora não é isso que você
pensa e diz aos seus alunos’, ela falou - agora em um tom mais baixo. ‘É? Então
me diga, como é o mundo lá fora?’, retruquei. ‘É aquele que, se você abrir a
janela e olhar por ela, poderá ver’, num tom irônico ela respondeu. ‘Simples
assim?’, questionei. ‘Sim, simples assim’. E assim o assunto se esvaiu. Tentei
reagir: ‘Viu, queria um tempo para uma conversa e agora emudece?!’. E nada. Fiquei
transtornado com aquela conversa. Sabia que não deveria abrir espaço. Fui
vencido mais uma vez por aquela que às vezes diz me amar, mas que às vezes
também diz me odiar. Eu, um intelectual de esquerda, bem parido, mas um pouco
torto pelos déficits da vida, derrotado mais uma vez em pleno quarto de motel?
‘Desta vez me mato. Não passo de amanhã’, só pensei - e ela sussurrou baixinho:
‘Faça uma boa viajem para o seu mundo ideal meu bem’...
* também publicado no jornal Folha do Bairro, 08/08.
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