Acordo
no meio da noite embebido no próprio suor. Febril, passeava num pesadelo. O dia
fora cansativo e as pessoas na rua não eram sorridentes. Sei que antes de
dormir comi pastéis. Pesou no estômago. Foi isso. Mas também foi o dia
cansativo lá fora. Não achei ninguém de cara boa para dizer um oi e ter outro
oi sorridente como resposta. Depois que cheguei em casa e me olhei no espelho
percebi que a minha cara também não era boa nem convidativa nem simpática para
querer isso. Me conformei. As pessoas que transitam pela rua já não são mais as
mesmas. A cidade mudou como as pessoas que transitam. O comércio é um parque de
diversões ou um circo onde todos se curam das suas frustrações, mesmo que
momentaneamente. Na esquina de uma avenida qualquer uma menina vende seu corpo
por míseros trocados, enquanto a poucos metros dali um guarda esbofeteia um
garoto só por que ele tirou o sorvete de um adulto armado de apenas palavras.
Soube dizer o garoto. Não soube contradizer o adulto. E o guarda soube bater. Só
isso. Essa é a grande relação desses tempos. Meu rosto no espelho não sorri,
pois não acha nada disso engraçado. Meu suor febril da noite é o sintoma da
minha doença que não é só minha. É uma doença de todos os transeuntes que como
eu caminham e caminham, sem sonhos novos com ilusões velhas. Sem risos. Com
desespero.
* também publicado no jornal Folha do Bairro, 12/09.
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