Não
gosto da imagem limpa. Não gosto da imagem sem resíduo sem rasura. Gosto da
imagem chamuscada d’algum risco. Paredes com textura sempre me chamaram mais a
atenção do que paredes lisas. Muros grafitados ou pichados, mais do que muros
cinza da massa do cimento. Gosto mesmo é dos muros onde limbos e fungos vivem
impregnados. Muros verdes e úmidos de tempo vivo. Muros cinza de cimento e
lisos de pá de pedreiro são muros mortos, construídos para caírem. Muros ásperos
e sujos são vivos para resistirem vivos no tempo. Assim como gosto dos muros
vivos, gosto das imagens vivas. Imagens que se movimentam mesmo estando
paradas. Movimentam-se pelo olhar alheio, onde cada olhar vê movimentos
diferentes. Imagem limpa não dá vida. Imagem tratada a computador de
publicidade é imagem fabricada para só ver. Imagem que convence, mas não
interage nem muda o olhar. Imagem que permanece, pois está morta. Imagem viva é
outra coisa, ela fala e faz sentir. Ela grita e faz doer. Ela geme e faz
sofrer. Ela tem rasura e às vezes é desfocada. Ela integra desintegrando e
desintegra integrando. Imagem fotografada tem que ter acorde dissonante e
linguagem que se move. Imagem que é arte. Imagem que traz em si o momento
registrado, mesmo que ele nunca tenha sido do jeito imaginado. Imagem que fala
por si só, pois tem voz própria e nunca pede silêncio.
* também publicado no jornal Folha do Bairro, 26/09.
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