quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Imagem


(tiro dado em Florianópolis, jan. 2014)


Não gosto da imagem limpa. Não gosto da imagem sem resíduo sem rasura. Gosto da imagem chamuscada d’algum risco. Paredes com textura sempre me chamaram mais a atenção do que paredes lisas. Muros grafitados ou pichados, mais do que muros cinza da massa do cimento. Gosto mesmo é dos muros onde limbos e fungos vivem impregnados. Muros verdes e úmidos de tempo vivo. Muros cinza de cimento e lisos de pá de pedreiro são muros mortos, construídos para caírem. Muros ásperos e sujos são vivos para resistirem vivos no tempo. Assim como gosto dos muros vivos, gosto das imagens vivas. Imagens que se movimentam mesmo estando paradas. Movimentam-se pelo olhar alheio, onde cada olhar vê movimentos diferentes. Imagem limpa não dá vida. Imagem tratada a computador de publicidade é imagem fabricada para só ver. Imagem que convence, mas não interage nem muda o olhar. Imagem que permanece, pois está morta. Imagem viva é outra coisa, ela fala e faz sentir. Ela grita e faz doer. Ela geme e faz sofrer. Ela tem rasura e às vezes é desfocada. Ela integra desintegrando e desintegra integrando. Imagem fotografada tem que ter acorde dissonante e linguagem que se move. Imagem que é arte. Imagem que traz em si o momento registrado, mesmo que ele nunca tenha sido do jeito imaginado. Imagem que fala por si só, pois tem voz própria e nunca pede silêncio.


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 26/09.



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