Acordo no meio da noite. TV ligada, imagem chamuscada e o
chiado estridente e incomodativo. O azedo da cerveja que cheira grudenta
esparramada no chão da sala. Entre copos e garrafas eu e meu gato deitado sobre
meu cadáver, pois pareço um. A apresentadora do jornal da madrugada tem peitos
fartos e um olhar provocador, mas não entendo nada quando ela fala. Aliás,
quando ela fala nada me interessa. É sempre a mesma porcaria de sempre. Deveria
ter deixado o volume da maldita TV baixo. Desligo a TV com uma garrafada que
estoura bem no meio da testa da apresentadora peituda. Adeus TV! O gato sorri e
mia. O cheiro azedo da cerveja grudenta esparramada no chão da sala me
entorpece ainda mais enquanto baratas e formigas fazem a festa. Minha cabeça é
um alto falante em 500.000 decibéis de potência. Penso nisso, mas nem sei que
porra significa. Só ouvi falar. O gato se esfrega em mim. Jogo o bichano pra
longe. Apago. Acordo novamente, agora com o ruído dos vizinhos de cima
transando sua transa matinal. Tento levantar ou gritar. Sem chance. Vejo com o
canto do olho o gato caçando um rato. O velho prédio está em festa e minha
cabeça prestes a estourar. Sou uma bomba atômica que quer matar o mundo todo.
Mas não consigo. Lentamente perco a visão ouvindo os vizinhos na sua festinha.
Apago novamente. Sonho esperando acordar noutra realidade.
* também publicado no jornal Folha do Bairro, 09/01.
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