sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Cansaço...

As pessoas que transitam eufóricas pela rua me cansam o olhar. Os doutos das academias que tratam o mundo como algo pequeno, me cansam a razão. As palavras vomitadas pelos telejornais me cansam a audição. Os discursos de ódio reproduzidos na rede social me cansam a humanidade. A corrida pelo ouro que é o pão que o diabo amassou, a corrida contra o outro, o status social, a disputa pessoal, tudo isso me cansa. Por isso é que vivo cansado, num cansaço só meu, que não é o mesmo cansaço de todo mundo. E o mundo cansa um dia. A natureza, vítima de tudo isso, anda bem cansada. Hora dessas, nos cospe para fora de seu planeta. Os jogos de poder nos bastidores da política oficial me cansam a dignidade. O choro da criança faminta me cansa o sentimento. O corpo malhado na academia sem conteúdo em cima e sem sensibilidade me cansa o movimento. A falta de bom senso, a intolerância, a mediocridade, tudo isso me cansa. E por tudo isso eu vivo cansado. Mas meu cansaço é um cansaço de cangaço. Cansaço de Lampião e Maria Bonita. Cansaço de Zapata e Vallejo que transformo em vontade de potência e força bélica. Meu cansaço tem gosto, odor e vibração. Vinho, vinagre e pimenta. Um cansaço que nutre e faz viver. Quando não morro deste cansaço, me fortaleço! (em analogia ao meu amigo bigodudo). Viver cansado, às vezes, tem sua poesia.



















* também publicado no jornal Folha do Bairro, 30/01.



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